Por Luís Quintanilha, especialista em blockchian, growth e desenvolvimento de negócios e CEO da Kanna Coin.
A regulamentação da cannabis tem se mostrado um vetor de transformação econômica e social nos países que adotaram políticas estruturadas para sua legalização. O mercado global da cannabis está passando por uma transformação sem precedentes, impulsionado por avanços regulatórios e pelo aumento da demanda por produtos terapêuticos e industriais. Segundo a Mordor Intelligence (2024), o setor deve atingir US$ 69,25 bilhões até 2029, crescendo a uma taxa composta de 15,40% ao ano.
Esse crescimento abre oportunidades significativas para mercados emergentes, que podem se beneficiar de condições climáticas favoráveis ao cultivo e de custos de produção reduzidos. Além disso, a legalização da cannabis tem gerado impactos positivos na geração de empregos, na arrecadação fiscal e na desestigmatização do uso da planta. No entanto, para que essa transformação econômica ocorra de forma sustentável, é essencial que as regulamentações avancem de maneira estruturada, garantindo segurança jurídica para investidores e um modelo sustentável para produtores.
Em diversos países, a regulamentação da cannabis tem permitido a consolidação de cadeias produtivas robustas em diversos países. Nos Estados Unidos, a indústria gerou US$ 35 bilhões em 2023, com projeções que apontam para mais de US$ 50 bilhões até 2027. O setor emprega diretamente mais de 428 mil pessoas, conforme o Leafly Jobs Report (2024). No Canadá, a regulamentação iniciada em 2018 resultou em uma movimentação de mais de US$ 7,1 bilhões em cinco anos, consolidando o país como um dos principais exportadores de cannabis medicinal.
Na Europa, a Alemanha regulamentou o uso medicinal da planta em 2017 e, em 2024, avançou para o uso adulto, prevendo uma movimentação de US$ 4,5 bilhões em cinco anos. Já a Colômbia apostou na exportação da cannabis medicinal, movimentando cerca de US$ 1,2 bilhão desde 2017. Esses exemplos demonstram que políticas bem estruturadas podem impulsionar significativamente a economia de países emergentes, garantindo arrecadação tributária e geração de empregos.
No Brasil, o mercado da cannabis medicinal tem apresentado um crescimento expressivo. Atualmente, há mais de 600 mil pacientes em tratamento com produtos à base de cannabis, e 439 produtos estão disponíveis para importação. Além disso, 153 empresas atuam no setor, abrangendo importadores, distribuidores e fabricantes. O faturamento do setor varia entre R$ 21,9 milhões e R$ 49,9 milhões ao ano, conforme dados da Kaya Mind (2024).
As mudanças regulatórias também tem sido um fator determinante. Em 2024, o Supremo Tribunal Federal (STF) avançou na descriminalização do porte de cannabis para uso pessoal, enquanto o Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou que a Anvisa deve regulamentar o cultivo e a comercialização da planta em até seis meses. Além disso, o Projeto de Lei 399/2015, que prevê a regulamentação do cultivo para fins medicinais e industriais, continua em tramitação no Congresso Nacional.
Caso o Brasil estruturar sua regulamentação de maneira eficiente, poderá explorar todo o potencial da cannabis como motor econômico. A formalização do setor pode gerar milhares de empregos, impulsionar o agronegócio e fortalecer indústrias como a farmacêutica, cosmética e têxtil. Além disso, a implementação de tecnologias como blockchain para rastreabilidade e inovação no cultivo pode consolidar o país como um dos principais players globais da indústria.
Os dados mostram que um modelo regulatório bem estruturado pode transformar a cannabis em um vetor de desenvolvimento econômico e social. Países como Canadá, Alemanha e Colômbia são exemplos de como a regulamentação pode impactar positivamente a economia, gerando empregos, arrecadação fiscal e inovação tecnológica. No Brasil, apesar dos desafios culturais e regulatórios, o potencial de crescimento é inegável.
Diante desse cenário, o futuro da cannabis no Brasil está sendo moldado agora. Para que o país aproveite essa oportunidade, é essencial que a regulamentação avance com responsabilidade, garantindo incentivos para a indústria, segurança jurídica para investidores e acesso seguro para os pacientes. Se bem estruturado, o mercado brasileiro pode se tornar um dos protagonistas globais da revolução verde, unindo inovação, desenvolvimento sustentável e impacto econômico positivo.