O sonho de todo empreendedor é ver sua empresa crescer, escalar e atingir novos patamares. Para isso, muitas vezes, é preciso buscar investidores que tragam não apenas o capital necessário, mas também credibilidade e apoio estratégico. Só que o que começa como uma parceria promissora pode, com o tempo, se transformar em um jogo de forças com interesses diferentes – especialmente quando o crescimento exige decisões difíceis, quando o caixa aperta ou a janela de saída se aproxima.
Recentemente, participei de um painel no South Summit 2025, onde pude debater as dinâmicas entre empresas e fundos de investimento. De um lado, o dono do negócio traz uma visão de longo prazo e com um apego emocional ao negócio. Do outro, o fundo carrega a responsabilidade de gerar retorno, com metas bem definidas. Nesse contexto, quando o primeiro enfrenta momentos de pressão, como a dificuldade em realizar uma nova captação, essas perspectivas podem colidir.
Não há fórmulas mágicas para evitar esse cenário, mas a experiência prática mostra alguns caminhos. É o caso da transparência desde o primeiro dia, principalmente com expectativas bem alinhadas em relação à visão de futuro e ao alcance de resultados — afinal, o objetivo em comum é o sucesso da empresa. Isso se reflete na prática, em ambos os lados entenderem quais sao as expectativas de retorno e principalmente, em qual tempo. Não é apenas questão de múltiplo, mas sim em quanto tempo.
Uma comunicação clara entre todas as partes envolvidas também é essencial para minimizar o potencial de conflitos com os investidores, que naturalmente se preocupam com a solidez do negócio. Assim como em qualquer relacionamento, a confiança é o maior ativo nos negócios, algo que se constrói com respeito mútuo, diálogo constante e pragmatismo.
Outra dica importante é o estabelecimento de mecanismos de governança flexíveis, que permitam que a companhia ajuste rotas e navegue por mudanças com maior serenidade e eficiência. Envio de reports de resultado com frequência, seja de 1x por mês ou 1x por trimestre, faz a manutenção do alinhamento de expectativas e direcionamentos, além de aproximar ambos os lados.
Pensando especificamente na área financeira, a tecnologia pode ser uma aliada para que as empresas se preparem para cenários de menor liquidez. Com ferramentas digitais, é possível antecipar despesas e traçar ações para não apenas evitar o endividamento, mas também acelerar e impulsionar o crescimento no mercado.
Como lidar com o ‘exit’?
Outro ponto relevante do debate sobre as relações entre fundadores e investidores é o famoso “exit”, período em que a empresa atinge um patamar de sucesso estabelecido e os investidores recuperam seu investimento — idealmente, obtendo lucro. Nesse momento, é comum o fundador questionar se está fazendo a coisa certa e como os envolvidos devem se preparar para a saída dos investidores.
Acredito que a melhor forma de se preparar para essa virada de chave é, justamente, não se preparando. A obsessão por um desfecho, seja uma sonhada venda ou um IPO, pode fazer o fundador desviar daquilo que realmente deve ser o foco central de sua atenção: construir um negócio sólido, autossuficiente e perene.
Ao invés de focar em manuais e receitas prontas, a consequência natural de uma trajetória bem-sucedida, com fundamentos robustos e potencial de crescimento a longo prazo, fala por si só. Uma marca moldada para durar por gerações não compromete a sua capacidade de inovação, evitando decisões prematuras e equivocadas.
No fim das contas, quem constrói com consistência não precisa correr atrás do exit — ele já vem junto de um grande legado.