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Vale do Silício: quais tendências de inovação apontam para o Brasil?

Foto: divulgação.

Por Leandro Queiroz, vice-presidente técnico do Grupo Skill.

Quando falamos em inovação, o Vale do Silício está, claramente, moldando o futuro da tecnologia com uma combinação de ousadia técnica e execução rápida.

Lar de algumas das maiores e mais famosas empresas tecnológicas, além de abrigar renomadas universidades mundiais, a região pode nos ensinar, e muito, sobre como explorar as tendências inovadoras a favor do crescimento econômico corporativo, para que o Brasil consiga desenvolver um ambiente de negócios muito mais favorável para que nossos talentos aprimorem suas ideias inovadoras frente a uma prosperidade mais consistente do nosso mercado.

Considerada, e com toda a razão, referência global em inovação e tecnologia, a mentalidade dessa região é um dos maiores aprendizados que devemos incorporar.

O Vale do Silício não inova apenas por ter acesso a capital ou tecnologia, mas por cultivar uma cultura que valoriza o risco, que aprende com o erro e recompensa a velocidade.

Lá, falhar é parte do caminho, e não um tabu, o que incentiva com que as empresas operem em ciclos curtos, testem com usuários reais e evoluam com base em dados. O resultado disso? Startups do Vale do Silício captaram, em 2024, metade do VC global, segundo dados divulgados pelo Crunchbase, chegando perto de US$ 314 bilhões.

Uma de suas maiores apostas, atualmente, está centrada no uso estratégico da inteligência artificial. A IA generativa, especialmente, em modelos multimodais que integram texto, imagem, áudio e vídeo, vem sendo aplicada para aumentar a produtividade, automatizar processos complexos e criar experiências mais personalizadas.

Há um forte movimento da integração dessa tecnologia com robótica e drones, o que está transformando áreas como logística, saúde e agricultura.

Um cenário bastante promissor que, ainda segundo informações do Crunchbase, viabilizou que quase um terço de todo o recurso global de venture capital foi para empresas em campos relacionados à IA tornando a inteligência artificial o setor líder em financiamento.

Essas startups receberam mais de US$ 100 bilhões, um aumento de mais de 80% em relação aos US$ 55,6 bilhões de 2023.

Outro ponto de destaque está no uso da IA na cibersegurança, permitindo respostas mais proativas e inteligentes a ameaças, um movimento que cresceu junto à preocupação latente com a privacidade desses ativos, o que tem impulsionado a adoção de IA embarcada em dispositivos, preservando os dados do usuário no próprio aparelho.

A academia e o mercado também são fortemente conectados por lá. Universidades como Stanford e Berkeley são motores do ecossistema, alimentando startups com talentos e pesquisa aplicada.

Além disso, o capital de risco ali vai além do dinheiro, ele traz visão estratégica, acesso ao mercado e mentoria de alto nível. Todos esses, pontos e características que contrastam, e muito, com a cultura brasileira, ainda muito avessa ao erro.

O Brasil, por um lado, tem avançado significativamente nessa área e, hoje, lidera a América Latina em número de startups, unicórnios e volume de investimentos. Temos uma base técnica qualificada, especialmente em desenvolvimento de software, segurança cibernética e ciência de dados.

Das 12 startups latino-americanas que estão mais perto de atingir valor acima de US$ 1 bilhão, segundo relatório da Distrito, lideramos a lista com nove integrantes. No entanto, ainda investimos pouco em pesquisa e desenvolvimento.

Enquanto países como Coreia do Sul destinam mais de 4% do PIB para P&D, no Brasil, isso gira em torno de 1%. Essa diferença limita nossa capacidade de gerar tecnologias de base, o que nos mantém mais como consumidores do que como criadores de inovação.

O potencial existe, mas precisamos de uma estratégia mais consistente e ambiciosa para alcançá-lo.

Também enfrentamos entraves estruturais sérios, como baixa coordenação entre os setores público e privado, excesso de burocracia, insegurança jurídica e uma concentração desproporcional de capital de risco em poucas regiões. Precisamos incentivar a inovação fora dos grandes centros, investir de forma mais estratégica em ciência aplicada e promover um ambiente regulatório mais ágil e favorável ao empreendedorismo tecnológico.

O Brasil tem todas as peças para estruturar esse quebra-cabeça, o desafio é montar o tabuleiro certo para que elas se encaixem. Não precisamos nos tornar um próximo Vale do Silício, mas podemos, e devemos, construir nosso próprio modelo de inovação, respeitando nossas particularidades.

Para isso, é essencial ter uma visão de longo prazo, com investimento contínuo em educação, pesquisa, infraestrutura e cultura empreendedora. Precisamos de um ambiente onde seja possível arriscar, testar e crescer com velocidade. A articulação entre academia, governo e setor privado também precisa ser mais efetiva.

E, acima de tudo, é necessário valorizar o pensamento criativo e a capacidade de execução. O futuro da inovação brasileira depende não só de recursos, mas também de coragem, foco e constância.

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