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A urgência de construir novos modelos de liderança

Foto: divulgação.

Por Patricia Ansarah, fundadora e CEO do IISP.

No cenário atual, cresce a consciência de que lideranças autoritárias e unilaterais já não têm mais espaço em ambientes que valorizam a colaboração e a liberdade de expressão.

Em seu lugar, ganha força uma abordagem mais humanizada e conectada, onde a segurança psicológica deixa de ser um diferencial e passa a ser uma necessidade.

Esse movimento reflete diretamente no cotidiano das equipes, como revela uma pesquisa do Talenses Group, realizada em 2024, na qual 90% dos entrevistados, em um universo de 590 pessoas, afirmaram já ter convivido com líderes tóxicos.

Somam-se a isso práticas que, muitas vezes, não começam de forma explícita, mas se desenvolvem silenciosamente ao longo do tempo: os assédios no ambiente de trabalho.

Dados recentes da Justiça do Trabalho mostram que, entre 2020 e 2023, o número de processos julgados por assédio sexual cresceu 44,8%, enquanto os casos de assédio moral tiveram aumento de 5%.

A ausência de uma liderança humanizada, comprometida com a segurança psicológica, teve um impacto direto e profundo na minha trajetória. Sou mulher, mãe, esposa e, sobretudo, uma profissional que precisou se moldar para sobreviver em ambientes corporativos predominantemente masculinos.

Desde cedo, aprendi a silenciar diante de agressões e a ajustar minha postura e discurso para ser levada a sério. Transformei minha vida em um grande projeto: planejei a gestação, os fins de semana, o tempo com os filhos, tudo cronometrado.

Por fora, eficiência. Por dentro, um desequilíbrio crescente. Apesar dos resultados expressivos e das conquistas profissionais, fui, aos poucos, afastando-me de mim mesma, da minha essência, do meu feminino, dos meus próprios limites.

Enfrentei episódios de violência psicológica e física, tive denúncias de abuso ignoradas, fui rebaixada injustamente após a maternidade e pressionada a escolher entre minha saúde e minha família. Em meio a tantos desafios, também vivi conquistas: encontrei lideranças que valorizavam a diversidade, participei de projetos inovadores e fui reconhecida por defender princípios éticos. Mas o custo emocional foi alto.

A gota d’água veio com um acidente de carro, causado pelo esgotamento extremo, que revelou uma nova gravidez e, tragicamente, a perda dela. Meu corpo gritava o que a mente já não conseguia mais esconder: algo estava errado.

Após o Burnout, doença reconhecida e classificada pela Organização Mundial da Saúde (MS) como ocupacional, e outras experiências dolorosas, compreendi que nenhum sucesso justifica a perda de conexão com quem se é de verdade.

Aprendi, com cicatrizes e silêncio, que respeito, saúde e propósito não devem ser colocados à venda. Hoje, sigo mais atenta aos meus próprios valores, consciente de que, às vezes, mudar de rota é a única forma de preservar a sanidade.

Minha história é apenas uma entre tantas que ilustram por que cada vez mais profissionais pedem demissão – não por falta de capacidade ou oportunidades, mas para preservar a saúde mental. Nesse contexto, é urgente romper com modelos de liderança autoritários.

Líderes que priorizam a humanização e a segurança psicológica se tornam facilitadores, orientam com clareza, distribuem responsabilidades com equidade, constroem vínculos de confiança e praticam a escuta ativa. Mais do que comandar, inspiram colaboração e criam ambientes em que as pessoas se sentem respeitadas, valorizadas e verdadeiramente ouvidas.

Uma liderança eficaz exige mais do que estratégia e pensamento crítico, requer comunicação clara e relações baseadas na confiança. Feedbacks bem conduzidos são essenciais para impulsionar o desenvolvimento das equipes, mas é preciso ir além, uma vez que liderar com humanidade significa estar junto da equipe, não acima dela.

Por fim, valorizar uma cultura não punitiva traz benefícios diretos para a equipe e, por consequência, para toda a organização. Quando os profissionais não se sentem em constante estado de “sobrevivência”, mas reconhecidos como parte essencial do time, há espaço para que a criatividade floresça.

A seguir, quatro aspectos essenciais para promover uma liderança humanizada e um ambiente de segurança psicológica nas organizações:

  • Incentivo à liberdade de expressão: ambientes seguros valorizam opiniões, erros e contribuições sem medo.
  • Rompimento com o autoritarismo: liderar é ouvir, orientar e construir confiança, não controlar.
  • Cuidar da saúde mental e social: é preciso respeitar limites e promover equilíbrio entre vida e trabalho.
  • Estímulo a uma cultura não punitiva: erros são parte do aprendizado.

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