Por Marcelo Oliveira, diretor de estratégia na Verity.
Nos venderam a ideia de que a Inteligência Artificial é a resposta para tudo. Uma solução universal, capaz de transformar qualquer negócio em uma máquina de eficiência e inovação. Mas essa promessa é uma fantasia.
Empresas correm para integrar IA em seus processos, buscando um “milagre operacional” que raramente acontece. Isso porque a IA não é um método, é uma ferramenta. E uma ferramenta só funciona quando inserida em uma estratégia bem estruturada. O que adianta ter um algoritmo de previsão de demanda se os processos internos são caóticos? Como a automação pode reduzir custos se a empresa não sabe onde realmente perde dinheiro?
A eficiência operacional potencializada pela IA não está na adoção cega de sistemas “inteligentes”. Ela surge da capacidade de integrar essa tecnologia de forma crítica, onde faz sentido e gera impacto.
A IA bem aplicada não resolve problemas, ela revela onde estão os verdadeiros gargalos. Ela não corta custos sozinha, mas pode indicar quais processos são redundantes ou onde está a ineficiência sistêmica.
Isso exige um pensamento que muitas empresas evitam: revisitar processos, questionar fluxos de trabalho, testar novos modelos antes de colocar IA no centro. Mas não é isso que vemos. O que acontece é a adesão desesperada a soluções genéricas que prometem “automatizar tudo”, sem que os gestores entendam direito o que está sendo automatizado.
A promessa da IA só é real se alimentada por dados estruturados e relevantes. E aqui está outro problema: grande parte das empresas está se afogando em dados ruins. Informações desatualizadas, desconectadas ou simplesmente irrelevantes sendo jogadas dentro de algoritmos que, no fim, apenas devolvem uma versão mais sofisticada do mesmo erro.
O real desafio não está em implementar IA, mas em garantir que os dados extraídos ao longo dos processos operacionais são consistentes e confiáveis. Sem isso, qualquer previsão é um palpite glorificado.
Não se trata de comprar mais tecnologia, mas de orquestrar processos. A IA pode ser um acelerador incrível, mas se a estrutura subjacente é desorganizada, tudo o que conseguimos é caos em velocidade maior.
Empresas que realmente extraem valor da IA pensam diferente. Elas entendem que a eficiência operacional não vem de uma ferramenta específica, mas de uma abordagem sistêmica. Elas não colocam IA para tapar buracos, mas para trazer clareza sobre onde estão os problemas reais. Elas testam, refinam, experimentam. E, acima de tudo, não acreditam em soluções mágicas.
Portanto, antes de investir pesado em IA, a pergunta certa é: você sabe onde está desperdiçando tempo, dinheiro e esforço? Porque a IA não vai descobrir isso para você. Ela só vai amplificar o que já existe.