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Brasil é referência em odontologia, mas acesso ainda é desafio

Foto: divulgação.

Por Márcio Bósio, diretor institucional da ABIMO.

O Brasil é uma referência mundial em odontologia, com universidades e profissionais altamente qualificados, além de ser um dos maiores polos industriais do setor, com uma cadeia de dispositivos odontológicos reconhecida pela qualidade e inovação.

No entanto, apesar de sua força nesse campo, 32% dos brasileiros não visitaram um dentista no último ano. Essa contradição levanta uma questão crucial: se houvesse mais incentivo e investimento no setor, esse número ainda seria tão alarmante?

Um estudo inédito realizado pela ABIMO (Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos), em parceria com o CFO (Conselho Federal de Odontologia) e conduzido pela consultoria italiana Key-Stone, revela dados preocupantes sobre o acesso à saúde bucal no país.

Enquanto 75% dos brasileiros com ensino superior consultaram um dentista, apenas 54% daqueles com escolaridade básica fizeram o mesmo.

A desigualdade também é evidente na renda: 80% das pessoas que ganham acima de 10 salários mínimos buscaram atendimento odontológico, contra apenas 59% entre os que recebem até um salário mínimo.

O SUS é, então, a única alternativa para milhões de brasileiros, mas, segundo a pesquisa, apenas 23% dos atendimentos foram feitos na rede pública em 2024. A rede privada, por sua vez, foi responsável por 74% das consultas, evidenciando que o acesso à saúde bucal ainda é um privilégio de poucos.

Além da dificuldade de acesso, a odontologia brasileira enfrenta um paradoxo: enquanto milhões de brasileiros não conseguem consultar um dentista, o país se destaca mundialmente no setor.

O QS World University Rankings 2025 colocou três universidades brasileiras entre as 50 melhores do mundo na área, e o Brasil ocupa a segunda posição global na produção de artigos científicos em odontologia.

Esse acúmulo científico contribuiu para o mercado e para a indústria nacional de dispositivos odontológicos, que registrou um crescimento expressivo, exportando US$ 136 milhões em 2024 para mais de 140 países, um aumento de 11,7% em relação ao ano anterior. Os principais destinos foram os Estados Unidos, México e Argentina, além do crescimento no mercado europeu, com destaque para a Suíça e Alemanha.

Apesar desses avanços, o setor ainda enfrenta desafios para ampliar sua competitividade e fortalecer sua presença tanto no mercado interno quanto externo. Investir na indústria nacional, incentivar a inovação e ampliar políticas de acesso à saúde bucal são passos essenciais para transformar essa realidade.

Para que o Brasil continue a se destacar globalmente na odontologia, é fundamental equilibrar a excelência do setor com a ampliação do acesso da população aos tratamentos.

O fortalecimento da indústria nacional, aliado a políticas públicas que incentivem a produção local e tornem os serviços odontológicos mais acessíveis, pode reduzir as desigualdades e garantir que mais brasileiros recebam o atendimento necessário e de direito.

Valorizar a produção nacional não só impulsiona a economia, mas também contribui para um sistema de saúde bucal mais eficiente, sustentável e inclusivo. Afinal, um país referência mundial em odontologia não pode aceitar que milhões de pessoas fiquem sem atendimento.

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