Por Rebecca Fischer, co-fundadora da Divibank.
O comércio eletrônico brasileiro passa por uma revolução silenciosa. Se criar uma loja online e alcançar clientes em todo o país se tornou mais fácil graças a plataformas como Shopify e VTEX, garantir a conversão efetiva das vendas é um desafio muito mais complexo. Hoje, inúmeros pequenos e médios negócios deixam de faturar — muitas vezes sem perceber — por falhas invisíveis na etapa mais crítica da jornada: o processamento de pagamentos.
Problemas como recusas injustificadas de transações legítimas, filtros antifraude excessivamente rígidos e políticas opacas de bancos e adquirentes têm minado o crescimento de muitos empreendedores. Soma-se a isso a dificuldade de negociar taxas, a limitação de opções de financiamento e a complexidade da reconciliação financeira, especialmente para quem opera tanto online quanto em canais físicos, como supermercados e farmácias.
Diante desse cenário, soluções de orquestração de pagamentos despontam como uma estratégia crucial. Ao distribuir transações entre diferentes processadores de forma inteligente — maximizando aprovações e minimizando custos — é possível recuperar receitas antes perdidas e aumentar a eficiência operacional. Mais do que uma ferramenta tecnológica, a orquestração representa uma mudança de mentalidade: compreender que gerenciar bem os pagamentos é tão estratégico quanto vender.
Oportunidades não faltam. Só no mercado brasileiro, o volume de transações via cartão ultrapassa R$ 2,6 trilhões anuais. A popularização do PIX, que já responde por uma fatia expressiva do e-commerce, e o enorme mercado de transferências TED — que movimenta mais de R$ 43 trilhões — revelam um espaço ainda pouco explorado para inovação financeira que atenda também à realidade de pequenas e médias empresas.
Experiências recentes mostram o impacto positivo desse tipo de abordagem. Em datas de grande movimento, como a Black Friday, a implementação de estratégias de roteamento inteligente de pagamentos pode elevar significativamente as taxas de aprovação, protegendo receitas que antes seriam perdidas. Um exemplo disso é o caso da Divibank, que identificou que 9% das transações foram negadas na primeira tentativa, mas conseguiu recuperar mais da metade delas — aumentando a taxa de aprovação de 91% para 96%. O resultado foi um crescimento de 5% no faturamento dos clientes durante a data. Para negócios que operam com margens apertadas, cada ponto percentual recuperado representa um reforço importante no caixa e na sustentabilidade da operação.
No novo cenário digital, tratar o pagamento como uma etapa secundária é um erro que pode custar caro. Os pequenos e médios empreendedores precisam adotar uma visão estratégica, enxergando na orquestração de pagamentos não apenas um ganho de eficiência, mas uma ferramenta de crescimento e competitividade. O futuro do comércio eletrônico será moldado por quem entender que, para vender mais, é preciso também receber melhor.