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Por que os dados são o novo ativo do jurídico corporativo?

Foto: divulgação.

Por Cláudio Bernardo, sócio e diretor de receita da Docato.

Durante décadas, o departamento jurídico foi tradicionalmente percebido como uma área de contenção de danos, acionada apenas após a ocorrência de um problema.

Atualmente, essa perspectiva não apenas se mostra obsoleta, como também representa um risco. Em um mundo corporativo em constante evolução, com demandas regulatórias e operacionais crescentes, o jurídico deve assumir uma postura proativa e estratégica, atuando como um verdadeiro radar da organização. Para tanto, é indispensável o acesso a um recurso fundamental, os dados. Os números não mentem.

De acordo com o Legal Department Operations Index 2024, da Thomson Reuters, 79% dos departamentos jurídicos relataram aumento no volume de casos, enquanto a estrutura das equipes e os orçamentos se mantiveram praticamente estagnados.

A grande mudança de paradigma é perceber que o jurídico, antes um consumidor passivo de demandas, hoje é um produtor e guardião de dados valiosos: processos, contratos, movimentações judiciais, indicadores de risco e compliance, entre outros.

Agentes de inteligência artificial já desempenham um papel central nesse processo, automatizando tarefas como cadastro de processos, coleta de subsídios e estruturação de pré-contestações.

O problema é que muitos departamentos ainda não sabem como estruturar e aproveitar essa riqueza informacional. Ferramentas não mudam a operação, dados estruturados e fluxos inteligentes, potencializados por IA, sim.

O valor está na capacidade de transformar dados operacionais em indicadores de desempenho, padrões de comportamento processual e modelos preditivos.

Um exemplo concreto: ao identificar, com base em dados históricos analisados por IA, que uma unidade da empresa apresenta recorrência em ações trabalhistas, o jurídico pode atuar preventivamente, em parceria com o setor de Recursos Humanos e a liderança local, para mitigar riscos e evitar novos processos. Outro ponto essencial é o controle de riscos.

O jurídico que utiliza dados e automação consegue mapear os principais passivos da empresa, entender a probabilidade de perda em diferentes litígios e avaliar o impacto financeiro de decisões judiciais. Isso reposiciona o jurídico nas reuniões estratégicas: ele deixa de ser o setor do “não pode” para se tornar o setor do “aqui está o caminho mais seguro”.

Ainda de acordo com a Legal Department Operations Index 2024 75% dos departamentos jurídicos priorizam ferramentas para simplificar fluxos de trabalho, mas muitos ainda enfrentam barreiras culturais e estruturais.

Por exemplo, departamentos que tratam dados como um subproduto, em vez de um ativo estratégico, perdem oportunidades de otimizar recursos e prever tendências. Superar essas barreiras exige investir em capacitação, reestruturar processos e alinhar o jurídico aos objetivos de negócio, garantindo que a tecnologia seja um meio para resultados concretos, não um fim em si mesma.

Assim, negligenciar o investimento em leitura analítica, gestão inteligente de dados e automação com IA é como conduzir uma organização em alta velocidade com os faróis apagados: uma prática arriscada, imprecisa e, em última instância, insustentável.

Mais do que ganhos em eficiência operacional, o que está em jogo é a relevância estratégica do departamento jurídico no contexto corporativo contemporâneo. Em vez de atuar exclusivamente de forma reativa, o jurídico deve se afirmar como uma área capaz de antecipar riscos, propor soluções e contribuir para decisões baseadas em evidências.

Para isso, agentes de IA e ferramentas analíticas são indispensáveis, mas o diferencial reside na mentalidade orientada por dados, pautada pela prevenção e integrada aos objetivos do negócio. Adotar essa abordagem não é apenas sobre eficiência, é sobre garantir a relevância estratégica do jurídico e proteger o impacto financeiro da operação, assegurando que riscos sejam minimizados e resultados sejam ampliados.

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