Por Franklin Tomich, sócio fundador da Accordia e mestre em Finanças pela Fundação Dom Cabral.
Uma pesquisa do DataSenado feita em outubro de 2024 revelou que 24% dos brasileiros com mais de 16 anos foram vítimas de golpes digitais nos último ano, totalizando mais de 40,85 milhões de pessoas. Esses dados revelam que a crescente vulnerabilidade das empresas frente a fraudes, evidenciando que, apesar dos esforços em implementar controles de risco, muitas organizações ainda enfrentam desafios substanciais em proteger suas operações contra esses crimes, que frequentemente passam despercebidos pelas práticas tradicionais de análise.
O setor financeiro, que deveria ser um exemplo de rigor e precisão, tem falhado repetidamente na avaliação de riscos ao conceder crédito. Bancos, securitizadoras e fundos FIDCs ainda se apoiam em métodos de análise antiquados e insuficientes, confiando em balanços patrimoniais e indicadores financeiros que, na prática, podem ser manipulados com facilidade. A realidade é que muitas dessas instituições continuam presas a uma abordagem míope, baseada em checklists superficiais e no julgamento subjetivo de analistas, ignorando que fraudes contábeis e ajustes artificiais nos números são mais comuns do que gostariam de admitir.
Essa visão limitada resulta em concessões de crédito a empresas que já estão à beira da insolvência, mas que conseguem mascarar sua real situação financeira. Os balanços patrimoniais, frequentemente tratados como documentos imutáveis e confiáveis, podem ser ajustados para esconder passivos, inflar receitas e apresentar uma saúde financeira que não corresponde à realidade. Enquanto isso, os analistas continuam a confiar cegamente nesses números, sem se aprofundar nos reais riscos envolvidos. O problema não é apenas técnico, mas cultural: há uma resistência clara à modernização e à adoção de ferramentas tecnológicas que poderiam corrigir essas falhas.
A inteligência artificial e a análise preditiva já permitem identificar padrões de fraudes e inconsistências contábeis antes que os problemas se tornem irreversíveis. Modelos estatísticos avançados conseguem cruzar uma infinidade de variáveis, detectando sinais de deterioração financeira que passariam despercebidos por qualquer análise tradicional. No entanto, muitas instituições ainda insistem em processos manuais e subjetivos, ignorando os alertas e mantendo uma postura de negligência institucionalizada. Esse descaso não só gera prejuízos bilionários como também desestabiliza o mercado ao permitir que empresas financeiramente inviáveis continuem recebendo crédito.
O setor precisa urgentemente abandonar a ilusão de segurança oferecida por métodos ultrapassados e reconhecer que a automação e a inteligência artificial não são meros luxos, mas sim uma necessidade. A recusa em evoluir não é apenas um erro estratégico, mas uma irresponsabilidade que compromete a solidez do mercado financeiro como um todo. Enquanto os gestores insistirem em confiar mais na tradição do que na inovação, os riscos continuarão se acumulando, e as consequências serão inevitáveis.