Por Sthefano Scalon Cruvinel, CEO da EvidJuri.
Pode parecer imperceptível, mas a cada pesquisa feita no Google, uma resposta fornecida por um chatbot de inteligência artificial ou a simples reprodução de um vídeo em uma plataforma de streaming, há um consumo considerável de água e energia elétrica. Para o usuário, esse custo não aparece na conta no fim do mês, mas para o planeta, a fatura chega e é pesada.
Um exemplo prático: uma única resposta de 100 palavras gerada pelo ChatGPT consome, em média, 519 mililitros de água, o equivalente a uma garrafa, e 0,14 quilowatts-hora (kWh) de energia, o suficiente para manter 14 lâmpadas LED acesas por uma hora.
Esse consumo ocorre porque, ao acionar os servidores dos data centers que alimentam essas tecnologias, gera-se calor, exigindo o uso de sistemas de arrefecimento com água ou ar-condicionado, tal como o corpo humano transpira para regular a temperatura ao realizar esforço físico.
Agora imagine esse cenário em larga escala: se 10% da população dos Estados Unidos utilizarem a IA semanalmente para esse mesmo tipo de consulta, o sistema demandará mais de 435 milhões de litros de água por ano e mais de 121 mil megawatts-hora (MWh) de energia, o equivalente ao consumo de todas as residências de Washington, D.C. por 20 dias, segundo estudo da Universidade da Califórnia, encomendado pelo The Washington Post.
A Agência Internacional de Energia estima que uma consulta feita por IA consome cerca de 10 vezes mais energia do que uma busca simples no Google. E estamos falando de uma única ferramenta de IA, que hoje ultrapassa os 400 milhões de usuários.
A expectativa é que até 2028, segundo projeção da Goldman Sachs Research, a inteligência artificial represente 19% de toda a demanda energética dos data centers, o que poderá pressionar ainda mais os sistemas ambientais e de infraestrutura energética globais.
Até pouco tempo, o streaming de vídeos representava 1% das emissões globais de CO₂. A previsão é que esse índice suba para 8% até o fim de 2025.
Ou seja, cada trend viral, cada novo hábito digital que se massifica, gera uma reação em cadeia de consumo energético e hídrico invisível a olho nu.
É importante reconhecer que o uso da inteligência artificial é benéfico e irreversível. A tecnologia está transformando positivamente áreas como educação, saúde, transporte, segurança e ciência.
No entanto, à medida que a adoção cresce, aumenta também a responsabilidade sobre o uso consciente e sustentável dessas ferramentas.
Big techs como Google e Microsoft já estão implementando medidas para mitigar o impacto ambiental de suas operações, como o investimento em energia renovável e a busca por maior eficiência nos seus sistemas.
Países como os Estados Unidos e membros da União Europeia também ampliam iniciativas voltadas à sustentabilidade digital. Mas o desafio é proporcional à escala de crescimento dessas tecnologias nas próximas décadas.
Este artigo não busca gerar alarde nem defender o fim das ferramentas digitais. Pelo contrário. Trata-se de um convite à reflexão: assim como aprendemos a economizar água no banho ou apagar a luz ao sair de um cômodo, precisamos entender que a internet e a inteligência artificial também consomem recursos naturais. E que é possível, e necessário, utilizar essas inovações de forma equilibrada e responsável.
Porque a verdadeira inovação não está apenas no avanço tecnológico, mas também na consciência com que lidamos com seus efeitos colaterais.