O depoimento da influenciadora Virginia Fonseca à CPI das Pirâmides Financeiras reacendeu um debate urgente: qual é o limite da responsabilidade de quem influencia milhões de pessoas nas redes? Em um país onde o marketing de influência movimenta bilhões, episódios como esse expõem a fragilidade da relação entre publicidade, reputação e ética.
Virginia foi chamada a depor por promover, em 2022, a empresa de apostas esportivas Betzord, investigada por atuação irregular. Durante a audiência, seu posicionamento — em tom descontraído e por vezes alheio à gravidade do tema — gerou críticas. Para alguns, foi despreparo; para outros, um reflexo do quanto o mercado ainda trata com leveza uma questão séria: o impacto da publicidade digital na vida real das pessoas.
A profissionalização do influenciador — ou a falta dela
O marketing de influência cresceu de forma meteórica, mas muitas vezes sem estrutura. Influenciadores se tornaram veículos de mídia, mas nem sempre têm formação ou suporte jurídico, ético e estratégico para lidar com essa responsabilidade. Isso fica claro quando campanhas de marcas de apostas, investimentos ou saúde são promovidas sem o devido cuidado com o conteúdo ou com as possíveis consequências para o público.
Publicidade disfarçada: quando o post é mais do que parece
Outro ponto importante que o caso levanta é a transparência na comunicação. Quantas vezes o público sabe que determinado post é, de fato, publicidade? Mesmo com regulamentações da CONAR e orientações da ANPD sobre publicidade e proteção de dados, há ainda uma cultura de informalidade que protege os influenciadores — mas não necessariamente os consumidores.
Riscos à reputação das marcas
Para as marcas, o episódio serve como alerta. Vincular-se a influenciadores sem uma análise de reputação, histórico e postura pública pode ser um risco de imagem difícil de reverter. A afinidade com o público não pode ser o único critério; responsabilidade, coerência e ética também precisam entrar na equação.
Caminhos para o futuro
O mercado publicitário precisa evoluir com esse cenário. Agências, marcas e influenciadores devem investir em educação digital, compliance, checagem de parceiros e clareza nos contratos. O público, por sua vez, está cada vez mais atento e exige mais do que likes: quer verdade, segurança e respeito.
O caso de Virginia Fonseca na CPI pode até ser tratado com memes nas redes — mas para o setor, é um divisor de águas. E talvez o início de uma era onde influenciar venha acompanhado, finalmente, de responsabilidade proporcional ao alcance.