Por Filipe Fuzaro, CEO FUZZA Trade.
Ainda há quem enxergue ESG como uma sigla da moda, um jargão corporativo que logo será substituído por outra tendência passageira. As empresas de comércio exterior operam em um ambiente global complexo e altamente exigente, onde critérios ambientais, sociais e de governança deixaram de ser meros diferenciais competitivos para se tornarem verdadeiros requisitos de permanência. Assim, integrar práticas ESG não é apenas atender às expectativas do mercado: é uma estratégia essencial para garantir conformidade, eficiência e reputação em um cenário internacional cada vez mais rigoroso.
As grandes economias estão endurecendo as regras e deixando pouco espaço para quem insiste em manter práticas ultrapassadas. A União Europeia, por exemplo, aprovou o Regulamento contra o Desmatamento (EUDR), que entra em vigor em 2025 e proibirá a comercialização de produtos como soja, carne bovina e café associados a desmatamento, mesmo que legal nos países de origem (Comissão Europeia, 2023). O Mercosul segue o mesmo caminho, adotando medidas alinhadas às diretrizes globais de sustentabilidade. A mensagem é direta: quem quiser acessar esses mercadose permanecer competitivo frente aos concorrentes, precisará se adequar.
A relevância do ESG vai muito além da mera conformidade regulatória. Há um movimento claro por parte dos investidores, que cada vez mais priorizam empresas comprometidas com práticas responsáveis. A Europalidera esse processo, mas o movimento é global. Mesmo nos Estados Unidos, onde ainda há entraves regulatórios, a pressão do mercado e da sociedade civil segue firme. Governos, consumidores e parceiros comerciais exigem respostas concretas às questões climáticas, sociais e de governança.
Diante desse cenário, ignorar o ESG é fechar os olhos para o futuro. No cenário nacional, empresas como Natura e Ambev já compreenderam essa realidade. A Natura, por exemplo, foi reconhecida como uma das “Empresas Mais Éticas do Mundo” em 2021 e figura entre as líderes em sustentabilidade em rankings globais, fatores que impulsionaram sua internacionalização e fortaleceram sua marca (Ethisphere, 2021). A Ambev, por sua vez, reduziu em 55% o consumo de água por litro de bebida entre 2015 e 2021 e hoje reutiliza quase 100% dos resíduos sólidos industriais. São iniciativas que não apenas geraram economia, mas também reforçaram sua reputação perante consumidores e investidores. No comércio exterior, onde reputação é um ativo valioso e cada elo da cadeia conta, esses exemplos deixam claro que investir em ESG não é altruísmo corporativo: é estratégia. Transparência, ética, inclusão, redução de emissões, quando bem implementados, geram eficiência, atraem capital e abrem portas.
Além disso, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU vêm orientando políticas públicas e estratégias empresariais em escala global. Eles oferecem um rumo claro para quem busca alinhar-se às demandas do nosso tempo. No comércio exterior, incorporar essas diretrizes às operações não é apenas uma escolha sensata, é uma forma de antecipar tendências, evitar sanções e, principalmente, manter a relevância em um cenário que já não tolera omissões ambientais e sociais. A pergunta, portanto, já não é “por que investir em ESG?”, mas “por que ainda não?”. O comércio internacional está redesenhando suas fronteiras com base em critérios sustentáveis. Quem não acompanhar essa transformação corre o sério risco de ficar para trás, ou sequer ser considerado.