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Saúde mental nas empresas não é tabu, é peça-chave no caminho para crescer

Foto: divulgação.

Por Suzie Clavery, CHRO Latam da TotalPass.

De acordo com o Ministério da Previdência Social, cerca de 3,5 milhões de licenças médicas foram concedidas no Brasil em 2024. Desse montante, mais de 472 mil afastamentos são referentes a transtornos mentais, como ansiedade e depressão, o que representa um aumento de 68% em relação ao ano anterior. Números como esses reforçam que já passou o tempo do tema ser uma das prioridades máximas das empresas nos dias atuais.

Tratar o tema não deve ser tabu ou mesmo bônus, mas sim peça-chave para as organizações que se consideram inovadoras. Neste sentido, o foco de atenção no tópico não é essencial só por questões éticas, mas também para melhorar índices como produtividade, engajamento e retenção de talentos.

Mais do que dar luz ao tema a partir de um âmbito estrutural e detalhado, torna-se necessário ser parte central da cultura organizacional das empresas. Afinal, no fim, não é sobre atribuir um ou outro benefício extra aos times, mas sim estabelecer ações que criem uma responsabilidade social e coletiva a respeito disso, envolvendo tanto colaboradores quanto lideranças.

Desafios iniciais

Sem dúvidas, o primeiro desafio enfrentado pelas áreas de Recursos Humanos (RH) para implementar programas estratégicos ligados à saúde mental dos profissionais da empresa é convencer a alta liderança sobre a importância dessas ações. Os sinais iniciais de que os colaboradores podem estar enfrentando transtornos, como desmotivação e queda de produtividade, precisam ser observados justamente pelos gestores diretos, mas muitos não estão familiarizados com o tema.

Além disso, muitas empresas também não possuem métricas claras para mensurar esses indicativos, como o aumento no volume de atestados, a elevação do absenteísmo e o próprio crescimento dos afastamentos. Até mesmo as taxas de rotatividade (turnover) dos times chegam a passar batidas em alguns casos.

Basta olharmos o relatório “People at Work 2023: A Global Workforce View”, do ADP Research Institute, para compreendermos um pouco mais desse cenário: 57% dos trabalhadores sentem que seus líderes não estão preparados para lidar com temas relacionados à saúde mental sem julgamentos. Em outras palavras, diversas empresas estão caminhando e iniciando discussões sobre o assunto, mas ainda não estão totalmente prontas e abertas para tratá-lo como uma prioridade.

Estratégias e práticas eficazes

Por não existir, de forma geral, uma ampla abertura para debater a saúde mental no ambiente corporativo, o planejamento estratégico para mudar essa situação deve partir da escuta ativa. As lideranças precisam ser treinadas para criar ambientes mais acolhedores e capacitadas a ouvir o que os colaboradores sentem, precisam e valorizam, entendendo quais são as principais necessidades de cada um. 

Com isso, é possível implementar ações realmente eficientes, que promovam a qualidade de vida dentro e fora do escritório e vão além de benefícios obrigatórios, como o vale-transporte e o salário. Flexibilidade de horário, metas mais realistas, modelos híbridos, as possibilidades são inúmeras e devem ser ajustadas de acordo com o porte e a realidade da empresa.

Ou ainda podemos citar os programas de bem-estar, cada vez mais comuns nas organizações justamente por abrangerem não só a saúde mental dos colaboradores, mas também a física. Buscar parcerias com companhias que oferecem apoio psicológico e a prática de esportes, por exemplo, são excelentes opções nesse sentido.

E claro: todas essas iniciativas precisam ser monitoradas continuamente, para que os seus impactos sejam mensurados com clareza e novas melhorias possam ser implementadas.

Projeções para o mercado

O Infojobs revela que 86% dos trabalhadores brasileiros trocariam de empresa por questões de saúde mental. Isso indica que as organizações que deixarem o tema em segundo plano podem não só afastar talentos em potencial, mas a sua própria chance de crescer no mercado.

Investir em bem-estar é mais do que um dever social; é uma estratégia de longo prazo para a sustentabilidade e o sucesso dos negócios. Provavelmente veremos cada vez mais companhias entendendo essa importância nos próximos anos e se movimentando para criar uma cultura mais saudável e humana em seus ambientes.

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