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Consultorias de tecnologia estão falhando com seus clientes, é hora de rever o modelo

Foto: divulgação

Por Fábio Magalhães, fundador e sócio da Ideen.

A transformação digital é um imperativo corporativo, mas seu impacto real está aquém do prometido. Segundo o Boston Consulting Group (BCG, 2023), 70% das iniciativas de transformação digital não atingem seus objetivos. A culpa, em grande parte, recai sobre o modelo operacional das consultorias de tecnologia, que entregam soluções genéricas e pouco adaptadas às necessidades dos clientes. Assim, repensar o modelo operacional das consultorias e o papel das organizações é crucial para reverter esse cenário, com uma abordagem centrada no cliente, baseada em soluções sob medida, entregas modulares e contratos orientados a resultados.

A resistência cultural é um dos principais obstáculos, com 70% das falhas em transformações digitais atribuídas a barreiras internas, segundo a McKinsey. No setor financeiro, bancos investem milhões em IA que não se integra a sistemas legados, gerando custos elevados. A Gartner prevê que, até 2026, 60% dos projetos de IA fracassarão por falta de dados adequados, especialmente em PMEs, que recebem soluções incompatíveis com seu orçamento e capacidade. O modelo tradicional de consultoria, baseado em escopos rígidos e cobrança por hora, gera entregas padronizadas e provas de conceito que raramente transformam operações. Além disso, a ausência de suporte pós-entrega deixa clientes com plataformas que exigem manutenção constante, aumentando desconfiança e conflitos de interesse.

Outro ponto crítico é que muitas empresas iniciam projetos de transformação digital sem clareza sobre o problema a ser resolvido, os objetivos estratégicos ou os critérios de sucesso. Expectativas vagas levam a entregas desconexas. Soma-se a isso a resistência interna, o medo de perder controle ou de lidar com a complexidade, que bloqueiam a adoção de novas soluções. Para reverter esse cenário, é necessário desafiar zonas de conforto, alinhar incentivos e investir em capacitação. A integração com sistemas legados, frequentemente subestimada pelas consultorias, resulta em soluções que falham no ambiente real. A falta de accountability agrava o problema: muitas consultorias encerram sua participação na entrega formal, sem garantir a eficácia das soluções, o que afeta especialmente as PMEs, que têm recursos limitados para ajustes posteriores.

Diante desse cenário, é fundamental adotar uma abordagem contínua e centrada no cliente. Ferramentas de inteligência artificial, como plataformas de automação, possibilitam monitoramento em tempo real e ajustes dinâmicos. Contratos orientados a resultados, em vez de horas trabalhadas, alinham interesses e fortalecem a confiança por meio da transparência. Para isso, as consultorias precisam atuar como parceiras, cocriando soluções sob medida. Um modelo mais inovador para fornecedores de tecnologia envolve a construção de ecossistemas integrados, com plataformas modulares capazes de se adaptar às necessidades específicas de cada cliente.

Em vez de projetos monolíticos, as soluções devem ser construídas em camadas, permitindo implementações graduais que respeitem o ritmo e os recursos da empresa. Em setores como varejo e saúde, por exemplo, tecnologias como análise preditiva podem ser introduzidas em fases, com validações constantes para garantir alinhamento estratégico. Essa abordagem, combinada a metodologias ágeis e governança de dados, promove flexibilidade, reduz riscos e transforma a entrega em um processo iterativo e orientado a valor.

Para garantir a sustentabilidade das soluções, é essencial capacitar as equipes internas dos clientes. Especialistas devem oferecer treinamentos práticos e contínuos, permitindo que os times dominem as novas tecnologias e as adaptem ao dia a dia. Isso fortalece a resiliência organizacional e alinha a transformação digital aos objetivos estratégicos de longo prazo, sobretudo em ecossistemas regulados ou de alta complexidade.

Em 2025, as consultorias que liderarão o mercado serão aquelas que enxergarem a transformação digital como um processo vivo, não um produto engessado. A tecnologia é uma aliada, mas o sucesso depende de proximidade, responsabilidade e colaboração. As empresas, por sua vez, devem assumir um papel ativo, definindo objetivos claros e promovendo uma cultura de inovação. Somente assim a transformação digital cumprirá seu potencial, transformando não apenas sistemas, mas a própria forma de fazer negócios.

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