Em um cenário cada vez mais seletivo, a preparação jurídica, a clareza de modelo de negócio e a maturidade na construção da relação com investidores são fatores determinantes para o sucesso na captação de investimentos em startups.
Segundo dados da plataforma The News Waffle, o primeiro trimestre de 2025 registrou uma queda de 34% no número de rodadas de investimento em startups no Brasil, com apenas 125 operações concluídas.
O valor total captado também diminuiu, atingindo US$ 767 milhões, quase 7% a menos que no mesmo período do ano anterior.
Para Bruna Puga, advogada especializada em Direito Empresarial e negócios da Nova Economia, esse cenário reforça a importância da profissionalização na hora de buscar capital.
“Hoje, o investidor está mais criterioso. Não basta ter uma boa ideia, é preciso mostrar que o negócio tem estrutura, governança e capacidade real de execução”.
Com base em sua experiência em negócios, a especialista elenca quatro pontos fundamentais para quem está se preparando para captar investimento:
1. Estruture juridicamente sua startup desde o início
Muitos negócios nascem de forma informal, com acordos verbais entre fundadores e pouca atenção aos aspectos legais. Isso pode funcionar nos primeiros meses, mas se torna um obstáculo real na hora de buscar investimento.
Ter um contrato social claro, definir bem as participações societárias, manter a empresa em dia com suas obrigações fiscais e evitar conflitos de titularidade (especialmente sobre propriedade intelectual) são passos básicos, mas muitas vezes negligenciados.
Cláusulas como vesting, acordos de sócios e cessão de direitos de tecnologia ou marca precisam estar formalizadas. O investidor precisa saber exatamente em que está investindo, e isso começa pela estrutura jurídica.
2. Tenha clareza sobre o modelo de negócio e plano de crescimento
Não basta ter uma ideia inovadora. O investidor quer saber como sua startup ganha dinheiro, quem é o público-alvo, qual o tamanho do mercado e como você pretende escalar. Ter uma tese clara de crescimento, baseada em dados e validações reais (por menores que sejam), mostra que o negócio está sendo construído com visão e pé no chão.
3. Escolha com quem você quer se associar
Captar investimento não é só sobre conseguir dinheiro, é também sobre formar alianças. O investidor vai entrar no cap table, influenciar decisões e, muitas vezes, participar ativamente do futuro do negócio.
Por isso, não aceite qualquer proposta sem entender o que está em jogo: qual é o perfil do investidor? Ele compartilha sua visão de longo prazo? Vai pressionar por crescimento acelerado a qualquer custo? Entende o setor em que você atua? Empreendedores experientes sabem que o primeiro investimento pode ser decisivo para o ritmo e a cultura da empresa. Ter bons sócios é tão importante quanto ter bons clientes.
4. Formalize a rodada com segurança e transparência
Quando a negociação avança, chega a hora de discutir os termos do contrato. Nesse momento, contar com assessoria jurídica especializada é fundamental. Existem diferentes formas de estruturar uma rodada de investimento: mútuo conversível, contrato de participação, SAFEs, equity direto, cada modelo tem implicações distintas em termos de controle, diluição e governança.
O contrato deve prever condições claras: valor do aporte, forma de conversão, cláusulas de proteção para ambas as partes (como tag along, drag along e cláusulas antidiluição), além de disposições sobre saída, governança e resolução de conflitos. Um contrato mal redigido pode gerar insegurança jurídica e até inviabilizar futuras rodadas.
Para Bruna Puga, captar investimento é antes de tudo uma relação de confiança. E essa confiança é construída com preparo, transparência e visão de longo prazo.
“O investidor quer ver resiliência, capacidade de execução e seriedade na condução do negócio. Demonstrar maturidade nesses aspectos pode ser o diferencial que transforma o ‘talvez’ em um ‘sim’”, conclui.