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O LinkedIn quer mudar quem dá o primeiro passo

Foto: divulgação.

Por Andre Purri, CEO e cofundador da Alymente.

Encontrar um emprego tem se tornado, para muitos profissionais, uma experiência marcada por frustração, silêncios e uma enxurrada de currículos ignorados. De acordo com um estudo da Universidade de Toronto, mais de 75% dos currículos enviados online nunca são vistos por humanos, sendo filtrados automaticamente por sistemas de triagem baseados em palavras-chave. É nesse contexto que o LinkedIn apresenta uma proposta ambiciosa: transformar a maneira como nos conectamos ao mercado de trabalho com o uso da inteligência artificial. A promessa é ousada — e extremamente necessária. Ao permitir que os candidatos descrevam seus objetivos em linguagem natural, sem amarras técnicas ou terminologias exatas, a plataforma sinaliza um futuro mais humano e menos mecânico na busca por oportunidades.

Essa mudança não é trivial. Utilizando modelos de linguagem avançados (LLMs), a nova ferramenta vai além das palavras-chave e passa a compreender a essência do que o candidato busca — e de quem ele é. Ao reconhecer, por exemplo, que alguém que deseja usar marketing para “curar o câncer” pode estar em busca de impacto social, a tecnologia demonstra não só sofisticação, mas sensibilidade. É como se, pela primeira vez, a IA estivesse preparada para ouvir — e não apenas filtrar.

Mais do que uma inovação tecnológica, essa virada do LinkedIn é uma resposta clara a uma dor crônica do mercado: o desencontro entre o volume de candidaturas e a qualidade das conexões geradas. Segundo pesquisa da SHRM (Society for Human Resource Management), 85% dos recrutadores afirmam receber currículos de candidatos que não têm as qualificações mínimas para a vaga. Com cada vez mais profissionais se candidatando a um número crescente de posições — muitas vezes sem real alinhamento —, os recrutadores ficam sobrecarregados, e os candidatos, desmotivados. A plataforma tenta, assim, tornar o processo menos aleatório e mais intencional. Uma mudança de rota que chega atrasada, mas ainda em tempo.

Recursos como o job match, que indicam onde há compatibilidade real entre candidato e vaga, representam um passo importante para resgatar a lógica do encontro — e não do disparo em massa. Saber por que uma oportunidade faz sentido para o seu perfil (ou por que não) economiza tempo, energia e, acima de tudo, expectativas. A IA, nesse caso, não substitui a intuição humana — ela a potencializa, trazendo clareza a decisões que antes eram tomadas no escuro. Segundo dados da McKinsey, o uso de IA generativa em processos de RH pode reduzir o tempo de preenchimento de vagas em até 40%.

Claro, ainda há limites. O sucesso dessa nova abordagem depende da qualidade dos dados disponíveis, da atualização dos perfis e da capacidade da IA de refinar suas sugestões ao longo do tempo. Mas o caminho está traçado — e ele aponta para um modelo mais ético e eficaz de intermediação profissional. Em vez de punir quem não domina os termos certos, a nova busca acolhe a diversidade de trajetórias e formas de expressão.

No fim, o que o LinkedIn propõe é mais do que um avanço tecnológico: é uma reinterpretação do que significa buscar e oferecer trabalho. Ao usar inteligência artificial para compreender intenções — e não apenas currículos —, a plataforma sinaliza que o futuro do emprego pode ser mais empático, mais preciso e, finalmente, mais justo. Que não seja apenas uma promessa elegante, mas o novo padrão de como nos conectamos ao que realmente queremos ser.

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