Por Miguel Nahas, CEO da Future Dojo, escola de inovação corporativa da ACE Ventures.
Vivemos um momento empolgante em que a inteligência artificial (IA) se tornou ferramenta cotidiana para profissionais de todas as áreas. Ferramentas como o ChatGPT, Midjourney, Copilot e tantas outras entraram na rotina com a promessa clara de fazer mais com menos. Mas há um erro comum se espalhando silenciosamente pelas organizações: o uso superficial da tecnologia, como quem apenas “brinca de GPT”, sem extrair dela todo o seu potencial estratégico.
Não é a IA que diferencia um profissional, mas como ele usa a IA. Nesse novo cenário, três competências humanas continuam indispensáveis — e, eu diria, ganham ainda mais evidência: pensamento analítico, cliente no centro e liderança adaptativa.
Pensamento analítico: a habilidade de enxergar além da resposta
Com a popularização das ferramentas de IA, muitos profissionais passaram a terceirizar a produção de conteúdos, respostas e decisões. Mas o valor não está em gerar respostas rápidas. Está em analisar criticamente o que a IA oferece. É compreensível? Faz sentido? Está mesmo correto?
A tecnologia responde, mas quem pergunta bem e avalia com profundidade é o ser humano. Um bom pensamento analítico é o que permite distinguir entre um output útil e um equívoco bem articulado. É essa habilidade que separa os profissionais que realmente agregam valor dos que apenas replicam o que a máquina oferece.
Cliente no centro: IA não resolve se a entrega não conecta
Outro ponto essencial é a capacidade de colocar o cliente no centro das decisões. Não basta gerar um texto bonito ou uma solução criativa com IA se aquilo não conversa com quem vai consumir. A IA pode gerar ementas de cursos, roteiros de vídeos, propostas comerciais. Mas só quem entende profundamente o público-alvo saberá ajustar a entrega para garantir conexão e impacto real.
Em outras palavras: a tecnologia pode facilitar o caminho, mas não define o destino. O olhar humano ainda é insubstituível quando o objetivo é gerar valor genuíno para pessoas reais.
Liderança adaptativa: quem não se reinventa, fica para trás
A terceira competência que nunca sai de moda é a capacidade de adaptação da liderança. A forma como lideramos times, contratamos, delegamos, damos feedback e desenvolvemos talentos precisa acompanhar a evolução das ferramentas e das possibilidades.
Ainda vemos muitas lideranças operacionais demais, inseguras sobre como usar IA ou resistentes à mudança. Em vez de pensar em substituição de pessoas por agentes autônomos, é hora de pensar em como potencializar os talentos existentes com apoio da tecnologia.
A liderança adaptativa exige curiosidade, abertura e, principalmente, ação estratégica diante da transformação.
De brincadeira para valor real
O grande risco que vejo hoje nas empresas é limitar o uso da IA a tarefas pontuais, superficiais, sem um plano estruturado de capacitação ou governança. Muitas vezes, os colaboradores usam IA no celular pessoal, fora do radar do RH ou da liderança, porque a empresa ainda não sabe como orientar.
Mais do que criar diretrizes, é preciso desenvolver as pessoas para atuarem com inteligência — humana e artificial. Em vez de temer a substituição, líderes e profissionais precisam entender o que pode ser automatizado, o que deve ser aprimorado e onde está o verdadeiro diferencial humano.
Porque, no fim das contas, não adianta só brincar de GPT. É preciso saber extrair valor real da tecnologia — e isso exige competências que nunca saem de moda.