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Nova alta do IOF revela vícios estruturais da política tributária brasileira

Foto: divulgação.

Por Ivson Coêlho, advogado especialista em direito tributário.

A recente proposta de aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e sua posterior sinalização de recuo, após forte reação negativa de setores econômicos e da sociedade, revelam mais do que uma medida pontual de arrecadação. O episódio expõe uma lógica recorrente da política fiscal brasileira:  tributar onde é mais fácil, e não necessariamente onde é mais justo.

O IOF é um velho conhecido dos contribuintes e seu alcance vai do crédito pessoal a operações de câmbio, passando por seguros e até investimentos. Trata-se de um imposto com elevada elasticidade arrecadatória e ampla discricionariedade do Poder Executivo para alterar alíquotas, por decreto. Por essa razão, ele é um instrumento de ajuste rápido e perigoso nas mãos de governos que precisam aumentar receitas sem passar pelo Congresso. Como todo atalho, esse recurso tem limites. A elevação da carga sobre operações financeiras gera impactos diretos no crédito, encarece o custo de capital e alimenta incertezas.

A sinalização de possível recuo no aumento do IOF, ainda que não definitiva, indica que o governo sentiu o custo político e econômico da medida. Empresários e representantes do setor produtivo foram rápidos em demonstrar os riscos de mais um ônus em um país já conhecido pela complexidade e pelo peso de seu sistema tributário.

Mais do mesmo: tributar o fácil, adiar o essencial

O problema não está apenas na alta do IOF. Está na mentalidade que vê o sistema tributário como um meio para extrair o máximo possível do contribuinte, com foco em impostos de fácil arrecadação e baixa transparência. Enquanto isso, a base sobre patrimônio permanece subexplorada, e reformas estruturais seguem travadas por interesses políticos.

Ao que parece, o governo está perdido, no tocante à tributação, haja vista que, em diversas oportunidades, voltou atrás em medidas que aumentariam a arrecadação, por pressão da população, uma vez que a carga tributária está se tornando difícil de suportar. Podemos citar como exemplos recentes a maior fiscalização do PIX para tributação, os casos de tributação dos prêmios dos medalhistas olímpicos, a limitação dos créditos de PIS/COFINS e a tentativa de reoneração de 17 setores da folha de pagamento.

Chegou o momento de discutir uma agenda tributária que vá além de reformas cosméticas. O país precisa de um sistema mais racional, transparente e progressivo. É preciso tributar menos o consumo e mais a renda e o patrimônio, garantindo segurança jurídica e equilíbrio federativo. Não se trata de arrecadar menos, mas de arrecadar melhor. Enquanto isso não acontece, continuamos assistindo a decisões que revelam um Estado que cobra muito, cobra mal e, por outro lado, gasta muito, e mal, apesar de, em nenhum momento, promover um debate sério sobre corte de despesas.

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