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Eventos sustentáveis: a urgência de alinhar experiência com propósito

Foto: divulgação

Por Marcos Carneiro, CSO da Blood.

Nos últimos anos, testemunhamos uma profunda transformação na maneira como o mercado de eventos encara a sustentabilidade. Antes, vivenciávamos ações isoladas, como a redução de plásticos em áreas de alimentação, a instalação de lixeiras para coleta seletiva ou a digitalização de mapas para evitar impressões. Agora, temos uma compreensão muito complexa e integrada. A verdade é que a sustentabilidade, hoje, transcende iniciativas pontuais, que passaram a ser consideradas “o mínimo esperado”.

O conceito amadureceu em toda a sociedade e, com ele, nossa responsabilidade como empresa. Falar em um evento sustentável implica considerar a origem e o tipo dos recursos utilizados, o planejamento minucioso do descarte pós-evento, o impacto social gerado pela marca, e pela própria ativação, e até mesmo a pegada de carbono associada ao transporte de insumos, palestrantes e público. Tudo está interconectado.

Não se trata de um movimento isolado, mas de um conjunto robusto de práticas, cuidados, manuseios e, sem dúvida, de um acompanhamento rigoroso para que um evento possa, de fato, ter práticas sustentáveis. E buscar, incansavelmente, o mundo ideal: promover um evento 100% sustentável.

Transformações com propósito

Essa mudança de paradigma é impulsionada por uma nova consciência coletiva, um verdadeiro zeitgeist. O público e as próprias marcas passaram a exigir um compromisso genuíno com pautas ambientais, sociais e de governança (ESG). A sustentabilidade deixou de ser um adereço para se tornar um pilar fundamental, especialmente em ações de brand experience e mídia OOH. 

Uma campanha que promove embalagens recicladas, por exemplo, ganha uma força imensurável quando os próprios materiais da campanha, como painéis, lonas e apliques, são confeccionados a partir dessas mesmas embalagens. Essa sinergia solidifica a mensagem e demonstra um compromisso real e autêntico.

Nesse cenário, a tecnologia surge como uma aliada poderosa, muitas vezes operando nos bastidores para viabilizar práticas mais verdes. Embora pensemos imediatamente na tecnologia visível ao público, como a que reduz o uso de papel e plástico, seu impacto mais significativo ocorre no pré e pós-evento. 

O planejamento de estandes com materiais reutilizáveis, algo relativamente novo em nosso mercado, só se tornou viável graças a inovações tecnológicas. O cálculo preciso de resíduos, permitindo ações para mitigar a carbonização, e o advento de energias renováveis, veículos elétricos para logística e sistemas de iluminação LED de baixo consumo são outros exemplos dessa revolução silenciosa que ocorre por trás das cortinas, visando minimizar o desperdício e o impacto ambiental.

Reposicionamento corporativo

As exigências das marcas patrocinadoras também refletem essa evolução. Se há alguns anos a preocupação com ESG era incipiente, hoje vemos empresas buscando ativamente associar suas imagens a eventos com propósito, que sejam administrados por parceiros que demonstrem responsabilidade de governança, garantindo um ambiente de trabalho saudável e práticas éticas para todos os envolvidos.

Contudo, é inegável que a implementação de um evento verdadeiramente sustentável ainda implica um custo adicional: materiais reutilizáveis, cadeias de descarte correto de resíduos, fontes de energia limpa e a contratação de parceiros especializados para garantir boas práticas oneram, sim, o orçamento. 

É um desafio constante equilibrar o discurso inicial de preocupação ambiental com a realidade dos custos. A estratégia mais eficaz envolve apresentar desde o início o escopo completo, incluindo os custos da sustentabilidade, e buscar caminhos para viabilizá-la, seja por meio da absorção de parte desses custos pela agência ou pelo cálculo e compensação do carbono gerado.

Se olharmos para as práticas já consolidadas no setor de live marketing, veremos que muitas delas, como a diminuição do uso de plástico, a reciclagem de água e o uso de iluminação econômica, são reflexos de uma maré social mais ampla, e não exclusividades do nosso mercado.

No entanto, os desafios mais significativos, como o uso consciente de materiais não reaproveitáveis e o descarte cuidadoso de resíduos, ainda não são padrões e acabam, muitas vezes, preteridos em nome da redução de custos. Um dos nossos principais papéis como estrategistas é demonstrar o valor intrínseco desse “custo adicional”, que pode reforçar o posicionamento de marketing e construir uma imagem de marca ainda mais positiva.

Quando analisamos historicamente o cenário do mercado, o Brasil sempre esteve na vanguarda do discurso sustentável global. No entanto, quando identificamos as ações concretas no setor de eventos, percebemos que ainda temos um caminho a percorrer em comparação com outros países. As opções para materiais reutilizáveis e reciclagem de resíduos a custos acessíveis ainda são limitadas. Mas o cenário está mudando. Vemos clientes cada vez mais engajados, apresentando seus próprios parceiros sustentáveis que podem ser envolvidos nos eventos, otimizando custos e efetividade.

Olhando para o futuro, não há dúvida: a sustentabilidade deixará de ser um diferencial para se tornar uma obrigação inegociável no mercado de eventos, assim como em todos os outros setores. É uma jornada longa, uma luta que exige persistência, mas o objetivo primordial de quem atua com visão de futuro deve ser acelerar esse processo.

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