Por Jonatas Leandro, VP de inovação da GFT Technologies no Brasil.
O setor bancário e financeiro brasileiro atravessa um momento de inflexão histórica. Enquanto os bancos buscam um crescimento mais sustentável, equilibrando inovação e disciplina operacional, uma tendência emergente promete redefinir a experiência financeira: o Beyond Banking (Além do Banco, em tradução livre). Mais do que um conceito, trata-se de uma abordagem prática voltada a identificar desafios e oportunidades únicas de cada cliente, criando soluções personalizadas e ativando parcerias estratégicas que agreguem valor em múltiplos momentos da jornada do consumidor. Para que esse modelo seja bem-sucedido, exige-se um alinhamento sólido entre governança, estratégia e segurança.
A Inteligência Artificial (IA) é o motor por trás dessa nova arquitetura financeira. Com ela, o Beyond Banking transcende os limites dos serviços financeiros tradicionais ao integrar ofertas não financeiras à experiência do cliente – de marketplaces a serviços de turismo ou telecomunicações ofertados por bancos. A essência da transformação está na capacidade das instituições de evoluir além da oferta de produtos bancários, tornando-se orquestradoras de ecossistemas digitais completos e personalizados.
Nesse novo panorama, o domínio de IA não é mais diferencial – é pré-requisito. A tecnologia permite analisar grandes volumes de dados em tempo real para detectar tentativas de fraude, identificar padrões comportamentais e tomar decisões em milissegundos, tudo isso sem comprometer a experiência do usuário. A capacidade de evoluir a TI com agentes inteligentes abre uma nova frente de eficiência, onde a automação passa a ser contínua, proativa e adaptável.
A ampliação no uso de agentes de IA representa um avanço expressivo na automação de processos internos, especialmente na área de TI. Novas gerações de agentes guardiões estão surgindo para lidar com desafios de segurança e confiabilidade. Estes agentes atuam como revisores, monitores e protetores, capazes de identificar conteúdos gerados por IA, rastrear o comportamento de outros agentes e bloquear ações maliciosas ou não autorizadas. Projeções apontam que até 2030 esses agentes especializados poderão mitigar 15% das ameaças que afetam os próprios sistemas autônomos de IA. Para serem efetivos, no entanto, exigem integração com a infraestrutura tecnológica existente e clareza nos objetivos de governança.
O compromisso do setor bancário com essa revolução tecnológica é evidente. Os bancos brasileiros projetam investir R$ 47,8 bilhões em tecnologia em 2025, um aumento de 13% em relação ao ano anterior. Os aportes em IA e dados devem crescer 61%, demonstrando uma clara aposta no potencial transformador dessas tecnologias. Segundo levantamento da Febraban, 88% dos bancos já utilizam IA para inovação, e 94% a adotam para aprimorar o atendimento ao cliente.
Contudo, há uma lacuna entre o potencial reconhecido da IA e sua aplicação estratégica. Apenas 25% das instituições a utilizam de maneira estruturada para reforçar sua posição competitiva, e apenas 40% dos bancos que operam com IA generativa contam com equipes dedicadas à supervisão ética da tecnologia. A governança, portanto, desponta como um elemento crítico a ser fortalecido – especialmente diante de regulamentações emergentes, como o AI Act europeu.
Outro ponto de atenção é a maturidade do mercado brasileiro em relação à adoção da IA. Dados recentes mostram que metade das empresas ainda não utiliza essa tecnologia, e, entre as que já adotaram, 71% estão em estágios iniciais, com pouco retorno sobre os investimentos. Apenas 7% conseguem capturar valor real. Esse cenário reforça a importância de uma abordagem estruturada, com foco em governança, integração tecnológica e capacitação organizacional.
No centro dessa transformação estão os dados. Como afirmou Sam Altman, CEO da OpenAI, os dados são a espinha dorsal da inovação em IA. O uso inteligente dessas informações será essencial para impulsionar avanços significativos. Empresas como Salesforce, Meta, ServiceNow, Databricks e Snowflake têm investido fortemente em infraestrutura, qualidade e governança de dados. A chamada “pilha de dados” deixa de ser uma ferramenta apenas para analistas e passa a ser a base operacional para agentes autônomos de IA – exigindo uma completa reestruturação da arquitetura de dados das empresas.
O futuro do Beyond Banking exige maturidade estratégica. As instituições financeiras precisam ancorar a IA em seu modelo de negócios, reestruturar seus sistemas com foco em integração e automação, e garantir que a inovação venha acompanhada de responsabilidade e segurança. Aquelas que dominarem os dados, a inteligência artificial e a automação com agentes estarão preparadas para liderar na nova economia digital – um ambiente cada vez mais competitivo, dinâmico e centrado no cliente.
O futuro já começou. E os bancos que souberem moldá-lo com responsabilidade e visão estratégica serão os protagonistas dessa nova era.