Search

Fórmula 1 e o marketing que acelera mais que os motores

Foto: divulgação.

Por muito tempo, a Fórmula 1 foi parte da rotina dos brasileiros. Era comum acordar cedo aos domingos para ver as corridas na TV e torcer por ídolos que entraram para a história. Depois de alguns anos longe dos holofotes, o esporte voltou com força total. Hoje, vive um momento de renovação que mistura nostalgia, novas gerações e estratégias de marketing que vão muito além da pista.

De acordo com a própria Fórmula 1, a base global de fãs cresceu 12% em 2024, atingindo 826 milhões de pessoas. No Brasil, o interesse é ainda mais expressivo: uma pesquisa realizada pela Motorsport Network e pela Nielsen Sports aponta que 44% dos consumidores brasileiros declaram afinidade com a modalidade, o maior índice entre todos os países, mesmo sem representantes nacionais no grid desde 2017. Essa força não se limita ao consumo passivo. O Grande Prêmio de São Paulo, realizado em novembro do ano passado, registrou recorde histórico de público, com quase 292 mil espectadores em Interlagos.

Por trás dessa nova onda de popularidade está uma combinação de fatores. A era digital aproximou os bastidores das pistas dos fãs, com pilotos que deixaram de ser apenas atletas e se tornaram personalidades globais. Lewis Hamilton, por exemplo, soma mais de 37 milhões de seguidores apenas no Instagram e mantém parcerias com marcas de moda e projetos de impacto social. Charles Leclerc, Lando Norris e outros nomes também viraram protagonistas de uma narrativa que vai além do esporte. Eles representam estilo de vida, propósito e inovação.

Mas nenhum movimento teve impacto tão determinante quanto a série Drive to Survive, da Netflix. Lançada em 2019, a produção transformou corridas e rivalidades em enredos dignos de novela, repletos de emoção e tensão. A McKinsey & Company estima que Drive to Survive foi responsável por trazer milhões de novos espectadores jovens ao universo da Fórmula 1, principalmente da geração Z e de públicos historicamente menos engajados, como mulheres, que hoje já são mais da metade dos 25 milhões de novos fãs brasileiros, segundo a Nielsen.

O efeito cultural também se reflete no consumo e no comportamento. Só no TikTok, as postagens com a hashtag #Formula1 cresceram 57% no Brasil no último ano, superando 4 bilhões de visualizações. Essa presença digital abriu espaço para estratégias de monetização cada vez mais ousadas. O filme F1, produzido pela Apple Studios com investimento de mais de 200 milhões de dólares, mostra esse potencial. Gravado em GPs reais e estrelado por Brad Pitt, o longa utilizou câmeras da própria Apple instaladas nos carros e já arrecadou mais de 166 milhões de dólares em poucos dias de exibição. Tim Cook, CEO da Apple, afirmou que o projeto faz parte de uma ambição maior de consolidar a empresa como protagonista no entretenimento esportivo. Rumores de mercado apontam negociações avançadas para aquisição dos direitos globais de transmissão em um contrato que pode ultrapassar 2 bilhões de dólares, segundo o Business Insider.

O impacto desse novo ciclo não fica restrito ao ambiente virtual. No Brasil, a ativação física da McDonald’s, que lançou miniaturas colecionáveis dos carros de Fórmula 1 para aproveitar o lançamento do filme, se tornou um exemplo das dificuldades de planejar campanhas em tempos de hype digital. Sem limitação de compra por consumidor, os itens se esgotaram em poucas horas, fomentando filas, reclamações e uma onda de revenda online, com preços que chegaram a R$1.000 por unidade. O episódio obrigou a empresa a encerrar a produção e emitir um comunicado reconhecendo falhas na estratégia local, um alerta sobre os riscos de subestimar a demanda em um mercado altamente conectado.

Outro reflexo da popularidade é o cruzamento entre automobilismo e moda. Pilotos como Lewis Hamilton atuam como referências de estilo, assinando coleções com marcas como Tommy Hilfiger, Puma e Valentino. No TikTok e no Instagram, a Fórmula 1 se transformou em vitrine de tendências e em plataforma de posicionamento para grifes e celebridades.

Esse novo ciclo de expansão revela que o esporte, cada vez mais, é também entretenimento, cultura pop e território fértil para inovação em marketing. Mais do que velocidade, a Fórmula 1 se tornou símbolo de uma era em que narrativa, propósito e experiência caminham juntos. E no Brasil, onde a paixão pelo automobilismo sempre encontrou terreno fértil, a combinação entre memória afetiva e novos hábitos digitais promete manter os motores e o consumo em alta rotação.

Compartilhe

CEO da Cubo Comunicação.

Leia também