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O esquecimento da coragem criativa

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Foto: divulgação.

Há algo silencioso acontecendo no mercado criativo. E não é exatamente uma novidade — é uma amnésia.

Nos distraímos com as métricas, nos apaixonamos pelas fórmulas, profissionalizamos a intuição. Criar virou processo, job, deadline. Virou “entregável”.

Não que isso seja um problema. Profissionalizar é necessário. Ter estrutura é sábio. Mas quando esquecemos que a criação nasce do desconhecido — e não do previsível —, começamos a sufocar aquilo que mais buscamos: autenticidade.

Criar, de verdade, nunca foi só sobre entregar algo bonito, disruptivo ou performático. Sempre foi sobre coragem.

Coragem de errar.

Coragem de parecer boba.Coragem de apresentar uma ideia que ainda não tem lógica — só sentimento.

Hoje, nos apegamos tanto ao que já deu certo, que deixamos de dar espaço ao que ainda não foi tentado. E nessa pressa por relevância, talvez a gente esteja esquecendo da beleza de se perder um pouco no caminho.

A criatividade que não cabe em frameworks

Já reparou como os brainstorms estão mais silenciosos? Como os conceitos têm cada vez mais slides e menos alma?

Tem dias que parece que a criatividade entrou num funil. E ela até flui… mas não voa.

Transformamos o processo criativo em operação, e esquecemos que algumas ideias precisam do caos, da bagunça, do incômodo. Elas não nascem da certeza — nascem do vazio. Da pergunta mal resolvida. Da dor que ainda não virou discurso.

Criar é permitir-se um tempo que o algoritmo não entende.

A coragem como motor da criação

Nos bastidores dos projetos mais transformadores que já acompanhei — como mentora, empreendedora ou artista — não estavam as melhores ideias. Estavam as mais corajosas.

Aquelas que alguém quase não teve coragem de dizer em voz alta.

Aquelas que foram escritas chorando.

Aquelas que não couberam no cronograma, mas caberam no coração de alguém.

A verdadeira criatividade mora onde há risco. E não falo do risco financeiro — falo do risco emocional. O de se expor. O de contar uma história sua. O de dizer algo que ainda não tem muitos likes… mas tem verdade.

E se a gente voltasse a se arriscar?

Antes do engajamento, existia encantamento.

Antes da persona, existia uma pessoa.

E é essa pessoa — com todas as suas vivências, contradições e verdades — que ainda pode criar algo que o mercado não espera, mas precisa.

Criar também é desaprender. Desaprender o “jeito certo”, desapegar do controle, e lembrar que a nossa maior contribuição talvez não seja repetir o que já funciona — mas ousar sentir o que ainda ninguém teve coragem de dizer.

Talvez seja hora de lembrar por que a gente começou.

Porque no fim, a criatividade continua sendo isso: um ato de fé no invisível.

Um gesto íntimo de confiança no que ainda não existe.

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Fundadora da B.done

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