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Sustentabilidade nos games: tecnologia e impacto ambiental

Foto: divulgação.

Por Luciana Lancerotti, consultora e palestrante na área de marketing.

A cada novo lançamento, a indústria de games nos convida a explorar mundos incríveis. Mas será que estamos atentos ao impacto ambiental desse universo digital?

Em 2023, o mercado global de videogames movimentou US$ 227,6 bilhões, com projeções de crescimento para US$ 490,81 bilhões até 2033, impulsionado principalmente pelos jogos móveis.

No Brasil, somos líderes na geração de lixo eletrônico na América do Sul, com cerca de 2,1 milhões de toneladas anuais, mas apenas 2% desse volume é reciclado adequadamente.

Ou seja: estamos diante de um setor que cresce rápido, mas que precisa, urgentemente, de conversas mais maduras sobre responsabilidade ambiental e social.

Do consumo rápido à inovação responsável

Um filme que sempre uso para ilustrar como o consumo de eletrônicos está desenfreado é Buy Now (A Conspiração Consumista), disponível na Netflix. Ele nos faz refletir até onde a tecnologia está a serviço da experiência e a partir de quando ela se torna descartável.

O filme exagera? Talvez. Mas o que ele revela é algo bem real: a lógica da obsolescência programada, do vício em atualização e da substituição constante virou normal.

No entanto, isso não é exclusivo dos eletrônicos e afeta a forma como compramos, jogamos e até mesmo nos comunicamos.

Mas também podemos usar essa reflexão para mudar nossos hábitos. Se hoje a gamificação é usada para estimular cliques e engajamento rápido, por que não usá-la para promover comportamentos mais conscientes? Se os jogos nos mantêm por horas conectados a narrativas, por que não inserir ali temas como consumo sustentável, impacto ambiental, descarte correto?

Iniciativas que inspiram (e funcionam)

O movimento Playing for the Planet Alliance, criado com apoio da ONU Meio Ambiente, tem mostrado o quanto os games podem ser aliados na educação climática.

Em sua edição de 2024, a iniciativa reuniu estúdios para inserir missões ambientais dentro de jogos populares e isso gerou impacto real: milhares de jogadores plantaram árvores, reduziram o consumo de energia e aprenderam sobre economia circular.

Outro exemplo é o design modular de consoles e acessórios. Algumas startups já trabalham com componentes recicláveis e sistemas de upgrade que prolongam a vida útil dos dispositivos. Pode parecer simples, mas essas escolhas evitam toneladas de resíduos por ano.

Então, quando falamos de sustentabilidade, tecnologia e entretenimento, o papel da comunicação é central. Não se trata de “vender o verde” ou adicionar um selo ecológico a cada produto. Trata-se de convidar a reflexões. De transformar a jornada do usuário, do jogo ao descarte, em experiência mais ética.

Porque sustentabilidade também é sobre intenção. Sobre pensar antes de lançar, cuidar antes de comunicar. A indústria do entretenimento tem um poder imenso de influência e, com ele, vem a responsabilidade.

Repito: não é sobre perfeição. É sobre propósito. E sobre empresas que tenham coragem de reprogramar o jogo antes que o “game over” nos alcance.

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