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Modernização de legado é decisão estratégica indispensável para empresas

Foto: divulgação.

Modernizar sistemas é mais do que uma iniciativa tecnológica, é uma decisão estratégica, é sobre destravar o potencial da organização para o futuro. Neste artigo, quero consolidar minha perspectiva sobre por que essa jornada é indispensável e como navegá-la com sucesso.

Antes de qualquer coisa, devemos entender que sistemas legados são plataformas, tecnologias ou softwares antigos que estão em uso dentro de alguma empresa, mesmo que considerados obsoletos em relação às tecnologias atuais. Em sua maioria, são difíceis de atualizar ou manter, não possuem mais suporte do fornecedor, mas ainda são essenciais para as operações do negócio.

A modernização de legado, então, é o processo de atualização e transformação desses sistemas antigos para que sejam compatíveis com as necessidades atuais de negócio, tecnologia e segurança, podendo envolver desde melhorias específicas até uma total reescrita do sistema.

Para que a empresa esteja alinhada às estratégias de transformação digital, que exige agilidade, uso inteligente de dados e experiências conectadas, um sistema legado, construído para um mundo mais previsível, acaba tornando-se um gargalo natural. Ele impede a inovação, encarece a operação e limita a capacidade de resposta. 

Modernizar é essencial porque destrava a inovação, garante a agilidade, e reduz o risco, pois a dependência de um hardware obsoleto e de um conhecimento que se perde a cada dia cria um risco operacional e de segurança inaceitável. No fundo, continuar operando sobre uma base rígida e isolada é tentar correr uma maratona com uma âncora nos pés. A modernização corta essa corrente.

Desafios e erros mais comuns nas abordagens de modernização

Na minha visão, o primeiro e mais assustador desafio na jornada de modernização de legado é o risco associado. Estamos falando de sistemas críticos e mexer neles é, como gosto de dizer, “trocar o motor com o avião no ar”. Uma falha pode paralisar o negócio. Além disso, enfrentamos alguns fatores, como:

  • O fator humano: muito conhecimento não está em manuais, mas nas pessoas que operam esses sistemas há décadas. Perder esse capital intelectual é um risco real;
  • A complexidade oculta: anos de dívidas técnicas e integrações frágeis criam um ambiente difícil de mapear, onde uma mudança pode gerar impactos em cadeia não previstos;
  • O desafio político e orçamentário: a modernização nem sempre tem o apelo de uma nova frente comercial. Exige uma forte visão executiva para justificar um investimento cujos benefícios mais óbvios podem não ser imediatos.

Além dos principais desafios, uma jornada mal feita pode apresentar erros que acabam se repetindo em diversas organizações. Entre eles, observo que o padrão de falha que mais aparece é tratar a modernização como um projeto puramente técnico, descolado da estratégia de negócio. Outro erro clássico é a abordagem “Big Bang”, que tenta substituir tudo de uma vez, gerando um risco quase incontrolável.

Para evitar esses erros, as chaves principais são adotar uma abordagem evolutiva, trabalhando com entregas incrementais de valor  e estratégias como o Strangler Fig Pattern (onde o sistema novo “sufoca” o antigo gradualmente) são ideais; envolver o negócio desde o início, com squads multidisciplinares, que unem domínio funcional e técnico; e investir em mapeamento, usando o tempo e as ferramentas necessárias para um levantamento profundo de dependências antes de iniciar.

Atualmente, o arsenal para reestruturar legados está mais poderoso do que nunca. Vemos um forte movimento de replatform rearchitect, usando containers (como Docker e Kubernetes) e arquitetura de microsserviços e eventos para modularizar e escalar os sistemas. A adoção de Cloud Nativa, pipelines de CI/CD e práticas de DevSecOps também tornaram-se o padrão para garantir agilidade e segurança. 

Mais recentemente, a Inteligência Artificial Generativa tem surgido como uma aliada poderosa, apoiando a refatoração e tradução de código legado com ganhos de produtividade impressionantes. Já estamos utilizando agentes de IA especializados para analisar código antigo, extrair sua lógica de negócio e propor caminhos de modernização mais rápidos e seguros. 

Conselho para empresas e líderes

Para que a modernização de legado tenha sucesso, a liderança precisa enxergá-la como uma alavanca estratégica, não como um “custo de TI”. Para isso, a conversa deve ser conectada aos objetivos do negócio, como o time-to-market, a eficiência operacional, e a escalabilidade e risco. Mostrar valor com entregas rápidas gera a confiança necessária para sustentar o programa. 

A cultura organizacional, por sua vez, é o que determina a velocidade da mudança. Culturas colaborativas, com segurança psicológica e voltadas ao aprendizado, aceleram a transição. Modernizar não é só trocar tecnologia, é promover uma profunda mudança de mindset. 

Meu conselho para as empresas que estão adiando essa decisão é: comece pequeno, mas comece agora. Adiar a modernização é aceitar conscientemente um risco crescente de obsolescência, falhas de segurança e, principalmente, perda de competitividade. O custo da inação é uma dívida que só aumenta. 

Escolha um sistema com impacto moderado, mas que cause uma alta dor operacional. Crie uma prova de valor clara, com objetivos bem definidos e resultados visíveis em pouco tempo. Essa vitória inicial construirá a confiança e o momento necessários para expandir o programa. Lembre-se: modernizar não é só atualizar o passado, é preparar sua empresa para o futuro.

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CEO da Mirante Tecnologia e mestre em inteligência artificial há mais de 20 anos

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