Por Harrison Pinho Júnior, CEO da Singular Serviços e Segurança.
Enquanto os holofotes seguem voltados para setores como tecnologia, varejo digital e startups, um movimento silencioso, porém decisivo, vem ganhando protagonismo na base da economia brasileira: o fortalecimento do setor de facilities.
Trata-se de um ecossistema abrangente, que inclui portaria, limpeza, recepção, jardinagem, manutenção e apoio operacional, serviços muitas vezes invisíveis no dia a dia, mas absolutamente essenciais para o funcionamento das cidades e da vida corporativa.
Em um país que busca conciliar crescimento econômico com inclusão social, o segmento de facilities exerce um papel estratégico.
Emprega mais de 1,3 milhão de profissionais com carteira assinada, contribuindo para a formalização do trabalho em um cenário onde a informalidade ainda predomina. Ao mesmo tempo, incorpora tecnologias que ampliam produtividade, segurança e eficiência sem abrir mão do fator humano, e talvez aí esteja seu maior diferencial.
A digitalização chegou com força ao setor, com o uso de ferramentas como monitoramento remoto, sensores inteligentes, softwares de gestão integrada (IFM) e inteligência artificial, mas o discurso da automação deixa uma lacuna.. A tecnologia deve ser aliada do ser humano, e não seu substituto.
Por isso, mesmo com os avanços tecnológicos, é preciso seguir investindo na valorização, capacitação e humanização dos profissionais que estão na linha de frente. Afinal, o morador que entra em um prédio quer sentir-se seguro, sim, mas também acolhido. E isso, por enquanto, nenhuma máquina entrega.
Mais do que um fenômeno operacional, o avanço dos facilities representa também uma transformação social.
A expansão de empresas que atuam com governança, compliance e vínculo formal contribui diretamente para melhorar as relações de trabalho, ampliando a proteção social a milhares de brasileiros. É uma engrenagem que não costuma estampar manchetes, mas que sustenta silenciosamente o cotidiano de milhões de pessoas.
O Brasil, inclusive, é o líder latino-americano no segmento.
Segundo a Associação Brasileira de Property, Workplace & Facility Management (ABRAFAC), o mercado nacional é o mais desenvolvido da região, com faturamento estimado em R$ 60 bilhões anuais. Cerca de 64% das contratações vêm da iniciativa privada, e o setor deve crescer a uma taxa composta de 4% ao ano até 2027, alinhado à tendência da América Latina, que deve alcançar US$ 48,7 bilhões no mesmo período.
Ao contrário do senso comum, inovação não é apenas disrupção tecnológica. Inovar, neste contexto, significa integrar processos, otimizar recursos, elevar o padrão de entrega e, acima de tudo, cuidar das pessoas.
Um ambiente limpo, seguro e bem cuidado melhora a qualidade de vida, reduz riscos e gera impacto positivo na experiência de usuários e clientes. São essas entregas “invisíveis” que sustentam as grandes estruturas do país.
Facilities não são coadjuvantes. São hoje um dos motores mais estáveis, inclusivos e promissores da economia de serviços no Brasil. Um motor silencioso, é verdade, mas quem não escutar esse silêncio talvez esteja perdendo os sinais mais relevantes da transformação em curso.
Valorizar esse setor é reconhecer que o futuro da economia também se constrói com base sólida, pessoas capacitadas e eficiência aplicada à vida real.