Nos últimos três meses, enquanto o mundo seguia atento às oscilações do comércio internacional e à instabilidade provocada pelas novas tarifas impostas pelos Estados Unidos, o México agiu com precisão. O país acelerou investimentos em infraestrutura, fortaleceu suas alianças estratégicas e consolidou uma nova arquitetura logística que está mudando sua relação com o continente latino-americano, a partir de decisões pragmáticas, baseadas em logística real e diplomacia comercial, o México deu passos concretos para se tornar o principal hub logístico e produtivo da América Latina.
Novas rotas marítimas e parcerias transpacificas
Desde maio de 2025, os primeiros sinais de reposicionamento começaram a se materializar com a ampliação da capacidade do Porto de Manzanillo, o maior do país. Com investimentos robustos e projeção de movimentar até 10 milhões de contêineres por ano até o fim da década, Manzanillo se transformou em um ponto estratégico para o comércio transpacífico, essa estrutura ampliada já atraiu grandes armadores asiáticos, que inauguraram novas rotas diretas entre Xangai, Busan e a costa mexicana, encurtando distâncias, otimizando custos e reduzindo a dependência logística dos Estados Unidos.
Corredor Trans Ístmico: o novo eixo logístico
Paralelamente, o avanço do Corredor Interoceânico do Istmo de Tehuantepec marca um capítulo decisivo na logística mexicana, a ferrovia que conecta os portos de Salina Cruz, no Pacífico, e Coatzacoalcos, no Atlântico, passou a operar com carga plena. A estratégia do governo é clara: criar uma alternativa sólida ao Canal do Panamá, capaz de atrair o comércio global, especialmente o asiático, e distribuir a carga de forma eficiente por todo o continente. Ao longo da linha férrea, pólos industriais estão sendo instalados com incentivos fiscais agressivos e suporte logístico, com estimativa de que o corredor atraia, apenas nos próximos dois anos, mais de US$10 bilhões em novos investimentos.
De novas parcerias políticas a estratégias de crescimento nas dificuldades
No plano diplomático, o México também não ficou parado, pois desde junho, foram retomadas com força as negociações comerciais com a União Europeia, com possibilidade real de um acordo ser assinado ainda este ano, e ao mesmo tempo, as conversas bilaterais com o Brasil ganharam protagonismo, frente às incertezas comerciais criadas pelo retorno da política tarifária americana, os dois países passaram a articular caminhos alternativos, como rotas diretas para exportações agroindustriais brasileiras utilizando portos e corredores mexicanos. Hoje, o comércio bilateral entre Brasil e México já ultrapassa US$13 bilhões por ano, com tendência de alta nos próximos ciclos.
A nova realidade mexicana também vem sendo impulsionada por uma política de Estado voltada à industrialização. O governo de Claudia Sheinbaum reafirmou, em julho, o compromisso com o “Plan México”, que prevê aportes de mais de US$30 bilhões até 2026 para a modernização de infraestrutura logística, produção energética e digitalização de processos alfandegários, esse plano inclui ainda a inauguração de hubs multimodais, como o da cidade de Querétaro, voltado à tecnologia, e a implementação de sistemas automatizados de transporte de carga entre Laredo e Monterrey, conectando com mais eficiência o México ao mercado norte-americano.
Essas movimentações são amparadas por um dado decisivo: mesmo diante de uma expectativa de leve retração do PIB em 2025, a confiança externa no México aumentou. O país segue sendo um dos principais destinos de investimentos estrangeiros diretos da região, com destaque para setores como manufatura avançada, energia limpa, tecnologia e logística. A capacidade do México de responder com infraestrutura, integração regional e pragmatismo jurídico o posiciona como um dos principais articuladores da nova cadeia de suprimentos da América Latina.
Um novo momento econômico
O que estamos presenciando não é apenas a consolidação de novos portos ou a reativação de ferrovias, mas uma mudança de escala global, o México deixou de ser apenas uma extensão produtiva dos Estados Unidos para assumir, com clareza, uma postura de liderança regional. Para o Brasil, que tradicionalmente tem se concentrado em rotas atlânticas e acordos Sul-Sul, essa nova movimentação mexicana representa uma oportunidade real de integração produtiva e comercial.
Ignorar o novo papel do México é abrir mão de competitividade, acesso logístico e inserção global e esse momento pede ação: compreender o novo cenário, reposicionar estratégias de exportação e aproximar-se de um parceiro que já entendeu o futuro da América Latina, e está, com fatos, moldando seu lugar nele.
Estamos vendo nascer uma nova arquitetura de comércio latino-americano.