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A era das bandas virtuais: quando a IA sobe ao palco

Foto: divulgação.

Ganhar fãs, aparecer em playlists do Spotify, alcançar um milhão de streams e viralizar como se fosse uma banda real, quando na verdade ela não existe. Esse é o caso de The Velvet Sundown, grupo de rock criado por inteligência artificial, que em poucas semanas conquistou mais de 1 milhão de ouvintes mensais, presença em playlists virais e dois álbuns lançados em ritmo de máquina.

Os integrantes, Gabe Farrow e Milo Rains, não existem. As fotos promocionais foram geradas por IA, as músicas e letras criadas com ferramentas automatizadas, e até entrevistas positivas sobre a banda surgiram de fontes inventadas. Quando as suspeitas aumentaram, os próprios criadores assumiram: a proposta era provocar a discussão sobre autoria, autenticidade e futuro criativo na era da IA.

A polêmica cresceu com os questionamentos sobre o possível favorecimento do Spotify a artistas virtuais. Como as plataformas podem pagar menos em royalties para conteúdos gerados por máquina, haveria incentivo econômico. A inclusão de faixas da banda em playlists populares alimentou rumores de manipulação de algoritmos. O Spotify negou a interferência, mas o debate no mercado de música digital ganhou força. Outras plataformas, como a Deezer, passaram a sinalizar quando um conteúdo é fruto de inteligência artificial.

O movimento não está restrito à música. Influenciadores virtuais protagonizam campanhas, modelos criados por IA estrelam editoriais e já existem podcasts inteiros produzidos sem participação humana. Isso traz questões éticas sobre direitos autorais, impacto no trabalho criativo e percepção de autenticidade.

A ideia de uma banda não física não é inédita. Nos anos 2000, a Gorillaz conquistou o mundo com integrantes animados, porém havia músicos de verdade por trás do projeto. A diferença agora é que o processo criativo e a execução podem ser totalmente automatizados.

No marketing, o desafio é direto. Bandas digitais podem gerar conversa e atenção, mas sem propósito claro e narrativa consistente a conexão emocional se dissolve. Marcas e plataformas precisam tratar a IA como ferramenta, não como substituta integral, e comunicar com transparência o que é real e o que é artificial.

O caso Velvet Sundown mostra que, na era da IA, a viralização pode ser fabricada. Para quem cria, consome ou trabalha com marketing, a pergunta é inevitável: estamos usando a tecnologia para ampliar a criatividade ou apenas produzindo ruído algorítmico.

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CEO da Cubo Comunicação.

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