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Networking internacional: conectando-se além das fronteiras

Foto: divulgação.

Por Mara Leme Martins, vice-presidente do BNI Brasil.

É comum tratar o networking como um exercício de visibilidade. Mas, quando a gente olha com mais cuidado, vê que a construção de uma boa rede tem muito mais a ver com acesso à inteligência coletiva do que com autopromoção.

Nesse sentido, limitar as conexões ao circuito nacional não faz mais sentido. Existem empresas de networking que operam em vários países e em todos os continentes, interligando todos os membros e fazendo negócios.

Esse recorte restrito se tornou um problema. A maior parte das transformações no mercado, de tecnologia à gestão de pessoas, não nasce aqui; circula primeiro em ambientes globais, onde diferentes setores e culturas se cruzam.

Quem participa dessas conversas chega antes às tendências, lida melhor com complexidade e amplia repertório.

De acordo com o relatório The State of Hybrid and Remote Work: Q1 2025, da Robert Half, vagas totalmente remotas nos Estados Unidos já representam cerca de 15% do total, enquanto as vagas híbridas seguem crescendo e alcançam 24%.

Ou seja, boa parte das oportunidades passa a acontecer em redes que atravessam fronteiras. E o que está disponível para você depende, em parte, de quem você escuta e com quem troca.

O valor do contraste

As redes que mais fazem diferença não são as maiores, nem as mais influentes, mas sim as mais diversas. Quando você conversa com alguém que atua em outro mercado, com outra formação, outro vocabulário e outra cultura organizacional, essa troca provoca um ajuste fino: você passa a enxergar o seu próprio contexto com mais clareza.

Essa exposição ao contraste é especialmente valiosa para quem ocupa posições de decisão. Na prática, por exemplo, é comum ver isso com frequência: lideranças que só circulam em grupos homogêneos tendem a repetir padrões de julgamento, mesmo quando os dados apontam para outro caminho.

A diversidade de rede também protege contra o viés confirmatório: é muito mais fácil reforçar uma ideia do que colocá-la em xeque.

Só que a inovação e a inteligência adaptativa dependem justamente disso: de atrito saudável, de contraste, de múltiplas formas de pensar o mesmo desafio. Uma rede que não provoca esse desconforto não ajuda a crescer.

Oportunidade não chega por algoritmo

Uma das armadilhas do networking digital é a sensação de estar bem conectado, quando na verdade a rede só reforça o que você já sabe. Os algoritmos entregam mais do mesmo.

Por isso, cultivar conexões internacionais exige um esforço (também) intencional: acompanhar o que está sendo discutido fora, participar de grupos com regras de troca horizontal, expor ideias para públicos que não compartilham suas referências. Esse movimento nem sempre é confortável, mas é justamente aí que mora o ganho.

Você começa a descobrir soluções que ainda não circulam localmente, a entender como outras regiões lidam com os mesmos dilemas e a perceber oportunidades antes que elas virem tendência.

Trabalho remoto ampliou o alcance, mas não substitui vínculo

Não basta entrar em uma reunião com alguém de outro país para dizer que se tem um networking global. Relação profissional sólida continua exigindo presença, entrega e reciprocidade. Isso vale para qualquer rede.

O que muda nas conexões internacionais é a variação dos códigos, o que exige mais atenção à escuta, mais clareza na comunicação, mais disponibilidade para o conflito produtivo. É nesse tipo de relação, mais densa e mais exigente, que surgem as oportunidades que realmente valem o tempo investido.

Ou seja, fazer parte de uma rede global também é responsabilidade. As decisões que você toma localmente têm cada vez mais impacto em ambientes interdependentes e vice-versa.

Conectar-se globalmente é, no fim, um exercício de responsabilidade

A maior parte dos problemas relevantes hoje – desigualdade, sustentabilidade, saúde mental, impacto tecnológico – não pode ser resolvida dentro de fronteiras. A exposição internacional não resolve por si só, mas amplia a percepção e melhora a qualidade das perguntas que você faz. E perguntas melhores levam a soluções mais consistentes.

Isso não vale só para quem está em cargos de liderança. Profissionais técnicos, educadores, empreendedores, pesquisadores – todos se beneficiam de uma rede mais ampla, mais rica em repertório e mais exigente.

O ponto é: você quer operar dentro de um circuito fechado ou quer participar das conversas que realmente moldam o futuro da sua área? Quem tem compromisso com impacto precisa circular onde as decisões também estão sendo feitas.

E, cada vez mais, essas decisões não estão concentradas num só idioma, num só fuso ou num só modelo. Estar fora dessas redes é abrir mão de aprender com o que já está acontecendo só porque acontece em outro lugar.

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