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A verdade por trás da IA: estamos perdendo o controle?

fabiano Nagamatsu
Foto: divulgação

Por Fabiano Nagamatsu, CEO da Osten Moove.

A inteligência artificial vive seu momento mais popular e controverso.

De um lado, ela está presente em praticamente todas as áreas, do atendimento ao cliente à criação de conteúdo, da análise de dados à automação de vendas. De outro, cresce o número de pessoas e especialistas que alertam para seus riscos éticos, suas implicações sociais e a perda de autenticidade nos ambientes digitais.

Tenho falado cada vez mais sobre Inteligência Artificial em palestras, mentorias e dentro da comunidade de inovação da qual participo.

E uma pergunta insiste em aparecer, seja nas entrelinhas ou de forma direta: estamos vivendo uma crise de confiança na IA? Minha resposta é: sim, mas não no sentido que a maioria das pessoas pensa.

Não é a tecnologia em si que está em crise, mas a maneira como a sociedade está lidando com ela. A IA está crescendo de forma exponencial, e isso está escancarando nossa falta de preparo, tanto técnico quanto emocional, para conviver com essa nova realidade.

Desde os tempos em que trabalhei com redes sociais vejo esse padrão se repetir. Quando uma nova tecnologia ganha força, o primeiro movimento não é a adoção estratégica. É o medo, a negação ou o uso irresponsável.

Hoje, vivemos um momento em que qualquer pessoa pode gerar imagens, vídeos, vozes e textos com qualidade quase profissional. Mas junto com essa facilidade, surgem os riscos: fake news, deepfakes, influenciadores que não existem, manipulação de informação.

Já vi IA ser usada para criar campanhas com um nível de perfeição que assusta. E essa perfeição, por mais bonita que pareça, afasta. Porque ela não conecta com o real. E é aí que mora o problema: quanto mais artificial for a entrega, maior o risco de desconexão com o público.

Do outro lado, a blockchain: o protocolo da confiança

Se a IA ameaça a confiança com sua capacidade de gerar conteúdo indistinguível do real, a blockchain surge como o contraponto natural. Trata-se de uma tecnologia que garante rastreabilidade, autenticidade e transparência, valores que hoje são mais urgentes do que nunca.

Infelizmente, a Web3 ainda é vista como um território místico. Ninguém me convida para falar de blockchain em eventos. O interesse está todo em IA e redes sociais. E eu entendo. O hype vende. Mas a falta de entendimento sobre blockchain é um perigo, porque deixamos de lado justamente a tecnologia que pode nos proteger do colapso da confiança digital.

Uma das coisas que mais tenho repetido: os pequenos empreendedores estão muito mais avançados na adoção da IA do que as grandes corporações. Isso acontece porque eles têm menos burocracia, menos comitês, menos medo de errar.

Enquanto uma grande empresa ainda está decidindo qual IA contratar, o vendedor de hot dog já criou uma campanha completa com imagem, roteiro, trilha e dublagem gerados por IA. Está rodando anúncio, captando clientes e testando estratégia. Sem pedir bênção a ninguém.

A IA está democratizando a inovação de uma forma nunca vista. Quem tem coragem de testar está surfando. Quem espera “aprovação da matriz” está ficando para trás.

A ética está na forma de usar, não na ferramenta

Fico impressionado como ainda tem gente que acha que o problema está em “usar IA”. Eu costumo responder com uma provocação: você sabe de onde veio cada informação da comida que você come? A IA funciona do mesmo jeito. Ela foi alimentada por milhões de dados anonimizados, e a cada nova interação ela gera algo novo. Ela não copia — ela cria a partir de padrões.

Agora, se você usa isso para plágio ou manipulação, o problema não é da IA. É seu. E isso vale para qualquer tecnologia. A impressora pode imprimir um livro ou um boleto falso. O Photoshop pode fazer arte ou falsificar um documento.

A questão ética não está na ferramenta. Está em quem opera.

Assim, estamos entrando na era dos agentes. Pequenas IAs que executam tarefas específicas, se conectam entre si, aprendem com dados e tomam decisões sozinhas.

Em pouco tempo, você terá uma equipe digital trabalhando 24 horas por dia. Um agente para atendimento, outro para produção de vídeo, outro para planejamento de conteúdo, e todos eles conectados ao seu CRM, redes sociais e canais de venda.

Não é mais ficção. Já estamos vendo isso acontecer.

E o mais curioso: quanto mais poderosas forem essas ferramentas, mais será valorizada a experiência real. O marketing do futuro será sobre criar presença, criar impacto emocional, encantar presencialmente. Porque no digital, tudo será tão automático que a confiança só virá do humano.

IA e inclusão: o impacto positivo é real

Nem tudo são riscos. Pelo contrário. Um dos usos mais nobres da IA é o que ela pode fazer por pessoas com deficiência. Já acompanhei projetos que geram relatórios a partir de áudios narrados por senhoras artesãs em outro idioma.

A IA transcreve, organiza e entrega um e-book pronto. Já vi IA adaptar filmes para autistas em tempo real. Isso muda vidas.

O futuro da IA está na hiperpersonalização em tempo real. E, nesse cenário, pessoas que antes estavam excluídas passam a participar, a entender, a se expressar. A tecnologia, quando usada com propósito, é profundamente humana.

A IA vai transformar tudo. Vai acelerar negócios, eliminar intermediários, criar novos mercados. Mas ela também vai exigir um novo pacto de confiança entre empresas, clientes e sociedade.

E a confiança não se constrói com promessas. Ela se constrói com clareza, com responsabilidade e com verdade.

Se posso deixar uma provocação para você que está lendo: não se pergunte apenas como usar a IA. Pergunte por que usar. E, principalmente, como garantir que ela está te ajudando a construir algo com valor, não apenas algo automático.

O protagonista da história continua sendo o ser humano. E é nele que deve estar nossa confiança.

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