Por Fabio Seixas, CEO da Softo.
A popularização da Inteligência Artificial nas atividades profissionais e pessoais inaugurou um novo tipo de dilema cognitivo.
De um lado, a possibilidade de automatizar partes do raciocínio humano e terceirizar etapas da reflexão. De outro, o potencial da tecnologia como catalisadora de pensamento, não como substituta da mente, mas como provocadora de ideias mais sofisticadas.
Esse paradoxo entre a conveniência das respostas prontas e o estímulo à formulação de perguntas melhores revela algo mais profundo: o papel da tecnologia na formação intelectual contemporânea.
Para alguns, a IA representa uma ameaça à capacidade crítica humana. Para outros, um impulso ao aprofundamento, desde que usada com intencionalidade.
Os sistemas generativos como ChatGPT, Grok e Gemini produzem resumos, análises e argumentos com rapidez e, muitas vezes, com aparente precisão. Mas esse acesso fácil ao conteúdo pode desestimular o questionamento. Quando a resposta vem pronta, corre-se o risco de aceitar premissas sem revisão e conclusões sem reflexão.
O problema não está na ferramenta, mas no hábito mental que ela pode induzir. Automatizar tarefas é diferente de automatizar o pensamento. E quando não se duvida, não se pensa.
Segundo pesquisa do Instituto Reuters, apenas 11% dos usuários utilizam a IA para responder questões factuais, enquanto a maioria a emprega para criação ou consumo de conteúdo simplificado, como traduções e resumos.
Esses dados apontam para um uso predominantemente utilitário, com baixa exigência cognitiva.
Por outro lado, a IA pode ser uma poderosa interlocutora. Quando utilizada para testar hipóteses, confrontar ideias ou explorar conexões inesperadas, ela estimula um ciclo de feedback cognitivo.
Nesse modelo, o usuário precisa ter clareza de premissas e precisão nas perguntas, características de um pensamento assistido por IA. A tecnologia amplia o raciocínio humano sem substituí-lo, assim como ocorreu, em suas épocas, com a escrita, a imprensa e a internet.
A IA não apenas armazena e transmite informação. Ela reorganiza, simula e interage, isso transforma a relação entre humanos e máquinas, que deixam de operar em uma lógica de ferramenta para assumir o papel de parceiras no processo de pensar. Mas, para que essa parceria exista, é essencial manter a autonomia intelectual do usuário.
Portanto, o futuro da cognição humana dependerá não apenas do avanço tecnológico, mas sobretudo da cultura que construirmos em torno dessas ferramentas.
A inteligência artificial pode tanto abreviar trajetos quanto expandir nossos horizontes, mas essa transformação está condicionada à forma como a utilizamos.
Não se trata de pensar menos, mas de pensar com mais recursos e, principalmente, de preservar a autonomia e a responsabilidade intelectual. A verdadeira evolução será alcançada quando a tecnologia for parceira do pensamento crítico, e não seu substituto.