Por Diogo Catão, CEO da Dome Ventures.
A conectividade deixou de ser um recurso secundário e passou a ser um requisito essencial para o pleno exercício da cidadania. Hoje, o acesso à internet é a porta de entrada para serviços públicos fundamentais, como saúde, educação, segurança e participação social. Desta forma, deve ser tratado como um direito básico. No entanto, apesar dos avanços, ainda existem barreiras significativas que limitam a inclusão digital no Brasil.
Segundo o módulo Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) da PNAD Contínua 2023, 88% da população de 10 anos ou mais utilizou a web contra 66,1% em 2016. Apesar do avanço, ainda são 22,4 milhões de brasileiros excluídos, sendo a maioria formada por pessoas idosas e com baixa escolaridade. As desigualdades regionais também são marcantes, estudo recente do Instituto de Defesa de Consumidores (Idec), revelou que a Região Norte concentra os piores indicadores de conectividade do país, com infraestrutura precária, cobertura limitada e preços exorbitantes, chegando a planos de R$ 150 por conexões instáveis e de baixa velocidade.
A falta de acesso à internet acarreta exclusão social e limita o alcance de políticas públicas. O cidadão encontra barreiras para acessar benefícios sociais, agendar consultas médicas, acompanhar processos judiciais, matricular filhos na escola ou mesmo participar de decisões coletivas. Em contrapartida, quando há investimento em tecnologia, os resultados são expressivos tanto em eficiência quanto em inclusão. A Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Tecnologia da Informação e Comunicação (ABEP-TIC) aponta que, para cada R$ 1 investido em tecnologia da informação e comunicação (TIC), governos estaduais economizam em média R$ 9,79 no ano seguinte.
Dois cases nacionais ilustram bem esse impacto positivo: o programa Justiça 4.0 e a plataforma Gov.br. O Justiça 4.0, iniciativa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), busca digitalizar o acesso à justiça por meio de inteligência artificial e soluções inovadoras, tornando processos mais transparentes, ágeis e acessíveis ao cidadão. Já o Gov.br é hoje um dos maiores exemplos de integração digital no setor público, reunindo em um único ambiente soluções federais, estaduais e municipais. Com mais de 163 milhões de usuários, a plataforma reduziu burocracias e aproximou serviços essenciais da população.
O futuro aponta para a consolidação de políticas públicas que tratem a internet como infraestrutura essencial, base para iniciativas de cidades inteligentes e gestão de dados em tempo real. A conectividade amplia a capacidade de tomada de decisão dos gestores, melhora a eficiência do gasto público e promove inclusão social. Para que essa realidade seja alcançada de forma equitativa em todo o território nacional, será necessário investir em infraestrutura e ampliar a alfabetização digital.
Em um país marcado por profundas desigualdades sociais e regionais, garantir a universalização da conectividade vai muito além de uma decisão tecnológica. Trata-se de assegurar que todos os cidadãos tenham as mesmas oportunidades de acesso a serviços públicos, informação e participação social. A inclusão digital, nesse sentido, é um caminho para reduzir disparidades, fortalecer a cidadania e consolidar um modelo de democracia mais acessível e inclusiva.