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Itaú e o fim do home office: o que o mercado pode aprender com isso?

Foto: divulgação.

Por Fred Torrës, sócio sênior do Grupo Hub.

Na última semana, o Itaú Unibanco anunciou a demissão de cerca de mil funcionários que atuavam em regime remoto ou híbrido.

Segundo o banco, as dispensas ocorreram após uma “revisão criteriosa” de condutas relacionadas ao trabalho à distância, incluindo divergências entre registros de jornada e atividades realizadas nas plataformas internas.

Foram utilizados softwares de monitoramento de clics para controlar a atuação dos profissionais em regime home office. O Sindicato dos Bancários criticou duramente a decisão, classificando-a como arbitrária e desumana.

Independentemente da polêmica, o episódio traz à tona uma discussão maior: afinal, o mercado está mesmo abandonando o home office?

O home office foi um dos símbolos da pandemia, mas nos últimos anos perdeu espaço. A FGV IBRE aponta que a adoção da prática caiu de 57,5% das empresas em 2021 para 32,7% em 2022.

Muitas companhias passaram a ver desafios no modelo: desde a dificuldade de medir produtividade até a perda de engajamento e de cultura organizacional.

Essa percepção não é exclusiva do Brasil. Globalmente, consultorias como a EY identificam que apenas 16% dos profissionais desejam estar 100% no escritório, mas, do lado das empresas, cresce a pressão por mais presença física, especialmente em setores que dependem de colaboração e inovação constantes.

O paradoxo da produtividade

Curiosamente, estudos mostram que o home office não necessariamente reduz o desempenho. A mesma FGV IBRE identificou que, em 2022, cerca de 30% das empresas registraram aumento de produtividade entre seus colaboradores remotos, contra 21,6% em 2021.

O índice de empresas que perceberam queda caiu quase pela metade, de 19,4% para 10,2%.

Na prática, os dados revelam um paradoxo: enquanto funcionários relatam ganhos de eficiência, muitas organizações ainda encontram dificuldades em traduzir esses resultados em métricas confiáveis.

O sentimento é que as organizações sentem falta da cultura do presencial, das trocas mais calorosas e constantes, além do aprendizado e assimilação serem mais rápidas e efetivas quando se está próximo dos gestores e colegas.

Mas seria isso apenas uma forma de controle? É justamente nessa tensão entre percepção e mensuração que casos como o do Itaú ganham repercussão.

Se há um consenso em formação, ele aponta para o modelo híbrido. Pesquisas da FIA/USP indicam que 91% dos trabalhadores consideram sua produtividade igual ou superior em home office, mas, ao mesmo tempo, reconhecem a importância da convivência presencial.

Um estudo acadêmico com mais de 500 profissionais de tecnologia em uma grande empresa sul-americana reforça essa visão: não existe fórmula única. O sucesso do trabalho híbrido depende de equilibrar preferências individuais, dinâmicas de equipe e objetivos estratégicos.

As demissões do Itaú mostram que o debate sobre o futuro do trabalho ainda está longe do fim. Para algumas empresas, a presença física é vista como condição para garantir produtividade e cultura. Para outras, a flexibilidade continua sendo uma vantagem competitiva.

Seja qual for o modelo adotado, a lição parece clara: mais do que escolher entre remoto ou presencial, organizações precisarão encontrar formas de medir resultados com transparência e fortalecer a confiança entre líderes e equipes.

O futuro do trabalho, afinal, não será definido apenas pela localização, mas pela capacidade de equilibrar performance, cultura e bem-estar.

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