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Sustentabilidade começa no metro quadrado que ocupamos

Foto: divulgação

Por Francisco Canuto, CEO do SmartStorage.

Quando falamos em sustentabilidade, a imagem mais comum envolve grandes acordos internacionais, políticas públicas ou compromissos corporativos de larga escala. Tudo isso é fundamental, mas muitas vezes ofusca um ponto decisivo: o modo como cada metro quadrado ocupado no dia a dia é planejado e utilizado. A sustentabilidade também se constrói no espaço mais próximo, como residências, escritórios, áreas compartilhadas. A forma como usamos esses ambientes define diretamente o consumo de recursos, a geração de resíduos e a pressão sobre as cidades.

Ambientes planejados com eficiência reduzem desperdícios, prolongam a vida útil de materiais e evitam a expansão urbana desnecessária. Esse desafio é especialmente crítico em grandes capitais. Só em São Paulo, estima-se que haja mais de 1,2 milhão de imóveis vazios ou subutilizados, ao mesmo tempo em que o mercado imobiliário prioriza apartamentos compactos, de até 45m², que já representam mais de 40% das novas unidades, segundo o Secovi-SP. Esse paradoxo evidencia a necessidade de repensar a lógica de ocupação antes de simplesmente erguer novos prédios.

O impacto ambiental da construção civil reforça essa urgência. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) aponta que o setor responde por cerca de 40% das emissões globais de CO₂ e 30% da geração de resíduos sólidos. No Brasil, isso equivale a aproximadamente 84 milhões de toneladas de entulho por ano, segundo a Abrelpe. Reaproveitar imóveis e estimular soluções criativas para o uso do espaço são caminhos para aliviar uma das maiores fontes de pressão ambiental do planeta.

Nesse contexto, o crescimento do setor de self storage no Brasil é um exemplo claro de como é possível transformar esse cenário. Segundo a ASBRASS, o setor avança a taxas próximas de 20% ao ano, oferecendo alternativas que reduzem a necessidade de novas construções, liberam espaço em residências e negócios e incentivam um estilo de vida mais minimalista e sustentável.

Muitos podem argumentar que, diante da urgência da crise climática, repensar o uso de metros quadrados parece secundário. No entanto, essa visão ignora o poder acumulado das pequenas escolhas. Cada espaço otimizado, cada imóvel reaproveitado e cada metro quadrado compartilhado reduzem custos de energia, diminuem resíduos e evitam a construção de novos passivos ambientais.

O futuro das cidades depende, portanto, não apenas de megaprojetos sustentáveis, mas da soma de decisões diárias que moldam a vida urbana. Sustentabilidade não é apenas energia renovável ou reciclagem em larga escala: ela começa no espaço já existente, que pode ser melhor cuidado, reaproveitado e compartilhado. Reconhecer essa dimensão é dar um passo concreto rumo a cidades mais inteligentes, resilientes e equilibradas com os limites do planeta.

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