Tempo é o novo luxo e não estou falando aquele ligado ao descanso, mas ao valor de atenção, experiência e escolha. Na economia criativa, esse cenário pesa ainda mais: marcas, produtores e públicos disputam minutos, segundos, memórias. E esse recurso escasso exige estratégia, não só talento.
Dados ajudam a ver a magnitude: em 2022, o setor de economia criativa respondeu por cerca de 7,4 milhões de empregos, formais e informais, no Brasil, o que representa quase 7% da força de trabalho nacional. Esse número mostra força; mas também mostra que existe um público enorme demandando boas entregas, conteúdos e experiências que valham esse investimento de atenção.
Além disso, segundo o relatório Global Overview Report Digital 2024 (We Are Social + Meltwater), os brasileiros passam em média 9 horas e 13 minutos por dia conectados à internet. Dessas horas, mais de 3 horas e 40 minutos são destinadas exclusivamente às redes sociais, acima da média global. Esses dados não são só números: eles mostram que a atenção do público está disputada em vários fronts.
O problema é que atenção é frágil. O Brasil está imerso na era da economia da atenção, o conceito que coloca em tensão o excesso de informação com a escassez de tempo. Recebemos milhares de estímulos por dia: anúncios, notificações, conteúdos. E esse volume torna difícil quebrar a indiferença. Quem tenta “gritar mais alto” compete por perder relevância. O que ganha espaço é quem fala bem, entrega com cura, com pertinência.
Na economia criativa, isso se traduz em tensões múltiplas:
- Um evento cultural não vende só atrações; vende ambiente, experiências, conexões que justifiquem deslocamentos, gastos, horas perdidas no trânsito.
- Uma marca de moda ou design precisa pensar em serviço, em narrativa, não apenas em produto. O público quer mais do que ver, quer participar.
- No marketing, não basta anunciar: o diferencial está em criar ritmos, em respeitar o tempo do consumidor. Consistência conta mais do que explosão.
Quando atenção e tempo são disputas, o valor das entregas se multiplica. Marcas que investem em qualidade, curadoria, storytelling autêntico, experiências bem desenhadas pagam um “prêmio” de engajamento, fidelidade e percepção de valor.
Mas também há muitos riscos: projetos feitos às pressas, entregas sem profundidade, fornecedores prometendo muito e entregando pouco. A disputa de minutos pode gerar resultados de curto prazo, mas perder o cliente no longo prazo.
Por isso, a estratégia precisa trazer práticas claras:
- Planejar com base em dados: pesquisar quanto tempo o público está disposto a investir, quantas interações são necessárias para criar vínculo ou reconhecimento.
- Parcerias criativas bem definidas: fornecedores que compreendam não só estética, mas processos, métricas e experiência do usuário.
- Mensurar retorno além do clique: envolver memória, valor simbólico, confiança. Elementos que ocupam tempo mental e emocional.
- Inovação no ritmo: conteúdos “respiráveis”, eventos híbridos, modelos que respeitem pausas e que recompensem atenção, não só pela frequência, mas pela qualidade.
No fim das contas, talvez estejamos vivendo uma revolução silenciosa: a economia criativa deixa de ser medida por quantidade e passa a se medir por valor de experiência, e esse valor depende, essencialmente, de tempo bem aproveitado.