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A saúde mental como condição para o crescimento empresarial no Brasil

Foto: divulgação.

Por Rafael Caribé, CEO da Agilize Contabilidade Online.

A saúde mental ultrapassou o campo clínico e passou a definir os contornos da organização institucional em diversos setores da sociedade brasileira. A transformação é visível em dados, regulações e práticas de mercado.

No início deste ano, o Ministério da Saúde divulgou o relatório Saúde Mental em Dados, nº 13, que mostra que, em 2024, a rede de atenção psicossocial teve seu orçamento ampliado em 35% em relação a 2022, com mais de R$ 614 milhões adicionais.

Os recursos estão sendo aplicados em reajustes de custeio, 27% para CAPS e Serviços Residenciais Terapêuticos e 100% para Unidades de Acolhimento, além de um aumento de 51% no auxílio do Programa de Volta para Casa.

Esse movimento evidencia que a saúde mental se consolidou como prioridade de Estado, impactando diretamente também a vida organizacional e produtiva do país.

No recorte legislativo, desde maio de 2025, está vigente a Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), atualizada pelo Ministério do Trabalho e Emprego, que exige que as empresas incorporem riscos psicossociais em suas políticas de saúde e segurança.

Ao mudar o patamar de responsabilização das empresas, ignorar ou não agir pode ser interpretado como negligência com consequências jurídicas e econômicas.

Esse novo cenário tem acelerado a reorganização do mercado, como mostram os dados do Banco Nacional de Empregos (BNE).

No primeiro semestre de 2025, houve um aumento de 88% na oferta de vagas para psicólogos, em comparação com o período anterior, o que está alinhado com o cenário trazido pelo Anuário de Saúde Mental nas Empresas 2023, da consultoria Integridade ESG.

O estudo apresenta a realidade de que 79% dos trabalhadores brasileiros relatam estresse relacionado ao trabalho; 22% afirmam que essa é uma condição frequente.

A exigência não é mais uma tendência, mas uma realidade transversal, sendo assim, as empresas que desejam crescer de forma estável precisam estruturar-se legalmente nesse tema. Isso significa ter políticas claras, profissionais qualificados e práticas coerentes com os novos marcos regulatórios e sociais.

Todos esses dados e movimentos institucionais revelam um redesenho estrutural em curso. A saúde emocional deixou de ser um campo sensível e passou a ocupar o núcleo das decisões estratégicas das organizações.

O que antes era visto como iniciativa complementar, hoje é fator determinante para evitar riscos jurídicos, garantir competitividade e sustentar o crescimento.

A obrigatoriedade regulatória não é o ponto final, é o ponto de partida para que empresas integrem esse tema à sua governança. Isso exige planejamento, capacitação de lideranças, contratação de especialistas e revisão de rotinas organizacionais.

Estamos diante de uma mudança de paradigma. E, nesse cenário, negligenciar a saúde mental não é apenas ignorar uma questão humana, é comprometer a viabilidade do próprio negócio.

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