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IA como aliada para resolver problemas de negócio

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Foto: divulgação

Durante anos, a inteligência artificial foi tratada como um conceito futurista, muitas vezes restrito aos laboratórios de pesquisa ou aos círculos acadêmicos. Hoje, essa realidade mudou. A IA deixou de ser uma promessa futura e passou a ser uma ferramenta concreta de transformação, capaz de resolver problemas reais de negócio.

O uso da IA no ambiente corporativo vem sendo impulsionado por uma pressão constante por eficiência, personalização e tomada de decisão mais precisa. Em vez de se restringir à automação de tarefas, ela vem se consolidando como um instrumento central na redefinição de como as empresas operam, inovam e competem.

Mais do que acelerar processos, a IA permite tomar decisões melhores, e as empresas que aplicam-na em seus fluxos decisórios estão colhendo ganhos reais. Em vez de operar com base em achismos ou padrões do passado, gestores passam a trabalhar com projeções sustentadas por dados e simulações de cenários futuros. A tecnologia transforma incertezas em riscos calculáveis. No setor financeiro, por exemplo, a IA já é usada para analisar risco de crédito e detectar fraudes em tempo real. No varejo, orienta decisões de estoque, precificação dinâmica e recomendação de produtos.

Da ineficiência à vantagem competitiva

Muitas empresas ainda veem a IA como uma ferramenta de apoio, quando deveriam tratá-la como alavanca estratégica. Enxergá-la como ferramenta estratégica significa entender que seu valor não está no algoritmo em si, mas na sua capacidade de criar uma vantagem competitiva duradoura, conseguindo construir novos modelos de negócio, aumentar a barreira de entrada e tomar decisões mais rápidas e informadas.

Hoje, a IA resolve quatro grandes dores de negócio que antes eram sinônimos de altos custos e complexidade: ineficiência operacional, incapacidade analítica, baixa personalização e gestão de riscos. Cada uma delas representa uma área crítica onde a tecnologia já mostra resultados concretos:

  • Operações mais enxutas: a automação de tarefas repetitivas e de fluxos complexos libera o capital humano para se concentrar em atividades estratégicas, que exigem criatividade e julgamento;
  • Análise em larga escala: com volumes massivos de dados sendo gerados continuamente, a IA processa essa imensidão de informações para identificar padrões, prever tendências de mercado, antecipar a demanda de produtos e detectar anomalias;
  • Relacionamento inteligente com o cliente: modelos preditivos são aplicados para oferecer experiências hiperpersonalizadas, o que eleva o engajamento e a conversão em mercados cada vez mais saturados;
  • Detecção e prevenção de riscos: da análise de crédito à cibersegurança, os algoritmos são capazes de identificar padrões de comportamento atípicos com precisão superior ao olho humano, protegendo os ativos da empresa.

Vencendo a resistência

Apesar das vantagens, a adoção da IA não é simples. O principal obstáculo não é técnico, mas sim cultural. Há resistência em redesenhar processos, medo da mudança e, muitas vezes, a tentativa de aplicar IA em estruturas ineficientes, o que gera resultados abaixo do esperado. O sucesso de uma iniciativa de IA depende menos da sofisticação do algoritmo e mais do comprometimento da equipe em reimaginar suas rotinas.

Outro ponto crítico é a qualidade dos dados. Modelos de IA são tão bons quanto os dados que os alimentam: se eles forem inconsistentes ou incompletos, os resultados gerados pela IA serão falhos. Isso cria um ciclo vicioso, no qual resultados ruins minam a confiança da equipe na tecnologia, reforçando a resistência inicial e tornando a barreira cultural ainda mais difícil de superar.

Aqui, a governança também entra em jogo. Em um cenário cada vez mais regulado, a transparência na tomada de decisão algorítmica é obrigatória. Modelos precisam ser explicáveis, auditáveis e supervisionados por humanos, especialmente em decisões sensíveis. 

A confiança continua sendo o ativo mais importante de qualquer organização. Por isso, é essencial que essa jornada seja conduzida com transparência, governança e alinhamento aos valores organizacionais. Ferramentas de Explainable AI (XAI), modelos auditáveis e supervisão humana em decisões críticas são elementos que garantem que a tecnologia seja usada de forma responsável, e não apenas eficiente.

Por fim, o atrito da integração com sistemas legados também deve ser levado em conta. A ponte entre a nova IA e a estrutura existente da empresa precisa ser fluida. Muitas organizações operam sobre sistemas legados que não se integram facilmente com tecnologias modernas. 

Quando a implementação de uma ferramenta de IA cria atritos no dia a dia do usuário — exigindo processos manuais ou sendo pouco intuitiva —, a adoção é naturalmente rejeitada. Se a tecnologia não for percebida como uma ajuda, mas como um fardo, ela será abandonada.

Comece pequeno, mas comece

Para quem ainda não começou, meu conselho é claro: escolha um problema real, mensurável, e rode um projeto piloto. Não é preciso esperar pela solução ideal. Projetos bem executados entregam valor rapidamente, validam hipóteses e pavimentam o caminho para uma adoção mais ampla.

A IA não é uma tendência. É uma infraestrutura tão essencial quanto a eletricidade ou a internet foram em seus respectivos momentos. Ignorar essa transformação é optar pela obsolescência e a inação, hoje, é o risco mais alto que uma empresa pode correr.

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CEO da Mirante Tecnologia e mestre em inteligência artificial há mais de 20 anos

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