Por Vitor Rocha, especialista em marketing e analista na LogPyx
A segurança do trabalho em ambientes industriais e logísticos ainda é, com frequência, tratada como mera exigência formal ou custo inevitável. A distribuição de EPIs, o cumprimento de normas e os treinamentos pontuais compõem uma abordagem tradicional que, embora essencial, tem se mostrado insuficiente para conter o número alarmante de acidentes. Segundo dados do Ministério do Trabalho, o Brasil registrou 724.228 acidentes de trabalho em 2024. Desses, 74,3% foram acidentes típicos, 24,6% foram acidentes de trajeto e apenas 1% referem-se a doenças ocupacionais.
As atividades ligadas à indústria, obras de infraestrutura, atendimento hospitalar e comércio lideram os registros de acidentes, bem como os casos de afastamentos prolongados e óbitos. Colisões, atropelamentos e choques mecânicos estão entre as ocorrências mais comuns, sobretudo em pátios logísticos e centros de distribuição, onde pedestres e máquinas dividem o mesmo espaço.
Esse cenário evidencia a urgência de um novo paradigma. Em vez de reagir aos incidentes, é preciso antecipá-los. A chamada segurança preditiva propõe justamente essa mudança de lógica. Com tecnologias como Inteligência Artificial (IA), Internet das Coisas (IoT) e sensores de proximidade, torna-se possível detectar padrões de risco e intervir antes que o acidente aconteça. Sensores com tecnologia Ultra Wideband (UWB), por exemplo, já emitem alertas vibratórios e sonoros quando um operador de máquina se aproxima perigosamente de um pedestre, oferecendo precisão muito superior à da percepção humana. Além da prevenção em tempo real, essas soluções geram dados contínuos que alimentam análises preditivas e orientam decisões estratégicas. Com base nessas informações, gestores podem mapear áreas críticas, redesenhar fluxos operacionais e atualizar protocolos de segurança.
As objeções a esse modelo costumam girar em torno da dependência tecnológica ou do custo de implementação, especialmente para pequenas e médias empresas. Mas essas críticas desconsideram que a tecnologia não substitui o fator humano, e sim o potencializa. Ao ampliar a percepção de risco e reforçar comportamentos seguros, cria um ambiente de prevenção mais robusto. E, diante do impacto financeiro dos acidentes, que custam à Previdência Social mais de R$ 30 bilhões por ano, segundo o Tribunal de Contas da União, o investimento em prevenção se revela não apenas viável, mas estratégico.
Adotar uma cultura de segurança preditiva é, em última análise, uma decisão que alia responsabilidade, inovação e competitividade. É compreender que segurança e produtividade caminham juntas e que, diante das crescentes pressões por eficiência, conformidade e sustentabilidade, proteger vidas com o apoio da tecnologia deixou de ser opcional e tornou-se inevitável.