Por Eduardo Schuler, CEO da Smart Consultoria.
O mercado de trabalho brasileiro, historicamente estruturado sobre o modelo de emprego formal, ainda sustenta a ideia de estabilidade e segurança financeira como principal atrativo.
Esse paradigma, porém, vem sendo questionado diante das mudanças econômicas e da crescente instabilidade nas relações de trabalho, que tornam cada vez mais relativa a noção de segurança oferecida pela CLT.
Com isso, o empreendedorismo deixa de ser visto apenas como uma opção arriscada ou secundária e passa a se consolidar como uma alternativa concreta de transformação de vida e de carreira.
Segundo levantamento feito pelo Sebrae a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc), no período de 12 anos, o empreendedorismo entre o público com idade de 18 a 29 anos cresceu 25% e o faturamento dos negócios liderados por eles alcançou, em 2024, o melhor resultado da série histórica.
O levantamento mostra que, em 2012, havia cerca de 3,9 milhões de jovens Donos de Negócio (DN), já no fim de 2024, eles chegaram a 4,9 milhões.
No cenário mais amplo, a taxa de empreendedorismo no Brasil atingiu, em 2024, seu maior índice desde 2020, alcançando 33,4% da população adulta, de acordo com dados do Monitor Global de Empreendedorismo (GEM 2024).
Para além dos dados financeiros, o debate sobre empreender ou manter-se na carreira formal envolve aspectos emocionais e de propósito, já que trabalhar apenas para cumprir o básico em um emprego sem perspectiva de crescimento pode significar desperdício de tempo e energia em longo prazo.
O empreendedorismo, por sua vez, estimula autonomia, senso de responsabilidade e uma busca contínua por inovação, fatores que ampliam o aprendizado e fortalecem a capacidade de lidar com desafios.
A educação formal, ainda centrada em trajetórias previsíveis e avessas ao risco, tende a preparar jovens para o mercado assalariado, reforçando a ideia de que estabilidade se encontra dentro de grandes corporações.
Contudo, a realidade do trabalho contemporâneo, marcada por transformações rápidas e incertezas econômicas, coloca em xeque essa visão. A segurança no emprego formal mostra-se relativa, enquanto empreender pode abrir portas para maior liberdade de decisão e crescimento acelerado.
Nesse contexto, o perfil do profissional comprometido e obcecado em alcançar resultados ganha destaque. A mesma dedicação que, em uma carreira tradicional, depende do reconhecimento de gestores e da abertura de oportunidades, no empreendedorismo se converte diretamente em novas possibilidades de expansão.
A diferença está no controle: enquanto empregados aguardam promoções ou reajustes, empreendedores transformam esforço em impacto imediato sobre seus negócios.
Ao mesmo tempo, é necessário reconhecer que empreender envolve riscos significativos. Nem todos os negócios prosperam, e muitos empreendedores enfrentam trajetórias marcadas por instabilidade financeira.
A preparação adequada, o planejamento consistente e a capacidade de absorver fracassos tornam-se elementos essenciais para reduzir vulnerabilidades e aumentar as chances de sucesso.
A comparação entre CLT e empreendedorismo, portanto, não deve ser vista de forma maniqueísta. O emprego formal continua relevante para milhões de trabalhadores e oferece vantagens como benefícios e previsibilidade.
Já o empreendedorismo se destaca como via de transformação mais acelerada, capaz de proporcionar autonomia, maiores rendimentos e realização pessoal, mas ao custo de riscos que precisam ser calculados.
Cabe a cada indivíduo avaliar qual trajetória está mais alinhada a seus objetivos, disposição para enfrentar incertezas e visão de futuro.