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A trajetória de Victor Papi, novo General Manager da Transfeera, e os planos para 2026

Foto: Luciano Alves/divulgação.
Foto: Luciano Alves/divulgação.

Eu sempre trabalhei no mercado financeiro”. Foi assim que começou a entrevista com Victor Papi Ramos. E antes mesmo de apresentar sua trajetória, preciso adiantar: por onde passou, teve um M&A.

Engenheiro formado pela Faculdade de Engenharia Industrial, em São Bernardo do Campo (SP), começou sua carreira no Itaú BBA como desenvolvedor e líder de operações dentro da parte de operações de crédito com garantia. Mais tarde, participou do programa trainee na Cielo, onde conheceu muita gente do mercado financeiro como Paulo Caffarelli (presidente do Cielo na época) e Davi Holanda (executivo do PagBank na época e hoje CEO da fintech Jota). Em seguida, sua carreira foi marcada pela Porto Seguro, onde cuidou de produtos e, mais especificamente, do cartão de crédito.

Na Porto desenvolvemos muitas ferramentas para engajamento da base e participei do M&A (fusão e aquisição) com a Conectcar, porque um dos produtos que criamos na época era o adesivo de pedágio, dando início a negociação”.

Por volta de 2020, Davi Holanda (ex-PagSeguro, mencionado anteriormente na matéria) estava criando um novo negócio, a Bankly, primeira fintech de Bank as a Service (BaaS) do país, onde Victor foi trabalhar como parte do time fundador e passou 4 anos construindo a parte de operações, integração, projetos, atendimento, suporte, cartões etc, até assumir a posição de COO (diretor de operações), participando novamente de um  M&A. Dessa vez, para o Méliuz e, mais tarde, para o BV

Uma jornada de muito aprendizado. E vale ressaltar que o Bankly é a primeira fintech de BaaS no Brasil e, apesar de 6 anos no mercado, ainda não é um mercado regulado. O Banco Central (BC) só lançou uma consulta pública neste ano e, acredita-se que no ano que vem que saia essa regulamentação”.

Apesar de uma atuação legal no país, a regulamentação do BaaS se faz necessária, afinal, estamos falando do mercado financeiro. A “demora”, por outro lado, de acordo com Victor, se dá pela própria agenda do BC. 

Nos últimos anos o BC esteve preocupado com outras pautas, como a econômica, mudança de gestão, o próprio PIX, que virou case mundial, além da maturidade do mercado, por exemplo. No caso do BaaS, precisa de tempo para o BC entender qual caminho seguir”, complementa.

Ainda na época do Bankly, ele revela que tinham um certo interesse na aquisição da Transfeera, com sede em Joinville (SC). Em 2023, no entanto, a catarinense fez uma proposta para Victor e ele acabou aceitando. Começou cuidando do comercial e marketing. Ao longo do tempo, acabou abraçando outras áreas como produtos, tecnologia, operações e dados. 

E novamente, ele acompanhou um M&A. No fim do ano passado a Transfeera foi comprada pela PayRetailers, uma das fintechs líderes em pagamentos na América Latina. Diria até que Victor tem uma energia singular, com essa bagagem em várias áreas, torna ele uma peça essencial dos negócios que já passou, uma peça essencial para cases de sucesso no M&A brasileiro, quem sabe? Ao menos por onde passou, teve um M&A!

A transação fez parte da estratégia para expandir sua presença no Brasil, após a obtenção da licença para atuar como instituição de pagamento (IP). Com a aquisição, ganhou acesso direto ao PIX, além de fortalecer sua estrutura regulatória e de gestão de riscos no Brasil

Uma das mudanças é o próprio Victor assumindo como General Manager da Transfeera no Brasil, reportando diretamente ao time espanhol, apenas dois anos após sua entrada na fintech catarinense. 

Antes mesmo de entrar na Transfeera, eu sempre vi uma fortaleza muito grande na tecnologia e no produto, isso que estamos falando de uma empresa enxuta, tínhamos menos de 50 pessoas antes do M&A e, agora, temos cerca de 70 pessoas. Ao mesmo tempo, é uma empresa robusta, considerando tecnologia com core próprio, desenvolvido internamente, em relação a volumetria, pouca demanda de suporte, inclusive, me orgulho ao dizer que temos apenas 1 pessoa nessa área”, conta.

O próximo passo, de acordo com ele, é expandir isso. Apesar de ser um produto muito bom, ainda há o que explorar. 

Nesse primeiro momento, estamos focados em impulsionar vendas, inclusive, crescemos o time de marketing e vendas recentemente, ao mesmo tempo, estamos reforçando os times de engenharia e produto para construção de novas soluções, mirando novas linhas de receita”.

Com foco em pequenas e médias empresas (PMEs), hoje, a fintech mantém 3 escritórios. Joinville (onde concentra os times de tecnologia e financeiro), Curitiba e São Paulo, com os times comerciais. 

A Transfeera foi pensada em como dar autonomia e eficiência para o cliente. A ideia agora é criar mais soluções, evoluindo de uma plataforma de pagamento e recebimento para um ecossistema completo de banco digital PJ, trazendo cada vez mais funcionalidades e facilidades no dia a dia”, adianta.

Outro produto que também faz parte do portfólio da fintech é o validador de dados bancários, único no mercado, de acordo com Victor.

Criamos um hackathon em Blumenau para resolver uma dor do financeiro da Transfeera. Muitas vezes a gente queria pagar o fornecedor e os dados bancários estavam errados. Tínhamos que entrar em contato e perguntar o correto, gerando retrabalho etc. A partir disso, fornecemos também aos nossos clientes”. 

Na prática, a solução verifica se os dados bancários fornecidos existem ou não e se estão de acordo com quem vai receber o valor. Um exemplo que ele deu foi um aplicativo de delivery, que atende milhares de restaurantes diariamente. Para o restaurante se cadastrar na plataforma, é preciso validar os dados como CNPJ, endereço e informações de como vai funcionar, mas também os dados bancários de cada estabelecimento. Com a validação da Transfeera, é possível evitar erros de repasse dos pagamentos do aplicativo de delivery aos estabelecimentos, porque fez toda a validação anteriormente.

No processo de onboarding, o aplicativo de delivery chama a API da Transfeera, faz um depósito de R$ 1 centavo e fazemos a verificação dos dados, ou seja, na experiência, ele já garante toda essa validação”.

OPEN FINANCE COMO PRÓXIMA DISRUPÇÃO BRASILEIRA

Para o futuro dos pagamentos, pensando no cenário brasileiro, ele aponta algumas questões. Uma delas é o Pix Garantido, o por aproximação e o boleto com QR Code, assuntos que ficam para o ano que vem, porque o foco do BC têm sido a segurança. 

Quando falamos em futuro dos pagamentos no curto prazo no Brasil, esse ano não tivemos muitas novidades em relação a produtos. Quando falamos do próximo ano, uma coisa que está sendo pouco vista é o open finance, que no Brasil lançou como open banking, mas flopou. Quando foi lançado, ele tinha uma jornada de autorização com muito atrito. O próprio BC reconheceu isso, voltou atrás e mudou o produto, inclusive rebatizando como open finance e aí você vê uma nova era”.

Para ele, isso aconteceu porque passou pela jornada sem redirecionamento. Antes, havia o redirecionamento onde as pessoas tinham que aceitar os termos e acordos (digital, facial, senha) caso a caso. Quando houve essa nova era, foi permitido que os aplicativos e serviços armazenem esse “ok do usuário”, permitindo a jornada dentro de um único ambiente. 

Onde eu vejo que podemos ter disrupções no mercado para o próximo ano é justamente no open finance, algo que ainda não está sendo explorado em todo seu potencial”.

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Fundadora do Economia SC/SP, board member do Economia PR, 4 vezes TOP 10 Imprensa do Startup Awards e TOP 100 dos + Admirados da Imprensa no Brasil em 2025.

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