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Jovens trocam o estudo pelo palco digital enquanto cresce o medo da IA

Virgilio Marques FM2S
Foto: Isaque Martins.

Nos Estados Unidos, estudantes de universidades como Harvard e MIT Massachusetts Institute of Technology (MIT) estão abandonando seus cursos com medo de que a inteligência artificial (IA) torne suas profissões obsoletas.

A informação foi publicada pela Forbes em agosto deste ano, ao mostrar o impacto da chamada “ansiedade tecnológica” entre jovens de alta formação.

O cenário se repete, de outro modo, no Brasil: por aqui, cresce o número de jovens que trocam cursos técnicos e superiores por treinamentos voltados à “carreira de influenciador digital”, alguns deles cobrando até R$ 35 mil, sem credenciamento do MEC, segundo informação confirmada pelo Metrópoles.

Duas reações distintas, mas movidas pela mesma raiz: o medo de ficar para trás.

“Há quem paralise diante da IA e há quem busque um atalho fácil, acreditando que o esforço perdeu valor. Ambos os caminhos têm o mesmo problema: ignoram que o diferencial humano continua sendo insubstituível”, analisa Virgílio Marques dos Santos, sócio-fundador da FM2S Educação e Consultoria, gestor de carreiras e PhD pela Unicamp.

Uma pesquisa da Reuters/Ipsos aponta que 71% dos americanos acreditam que a IA poderá eliminar empregos permanentemente.

No outro extremo, em 2025 o Brasil ultrapassou os EUA e a Índia, tornando-se o país com mais influenciadores ativos, com 3,8 milhões de criadores, representando 15% do total global, segundo a consultoria HypeAuditor.

A promessa de autonomia e sucesso rápido atrai, mas a realidade é outra: apenas uma minoria consegue se sustentar financeiramente.

Para Santos, o fenômeno é um sintoma de uma crise mais profunda: a do preparo consistente. O desafio contemporâneo é manter o foco no que ainda diferencia pessoas de algoritmos.

“A IA já escreve textos, faz diagnósticos e analisa dados. Mas não compreende o contexto, não tem empatia, nem senso ético. O mercado está pedindo menos decoreba e mais pensamento crítico; menos execução automática e mais capacidade de resolver o que ninguém mandou”.

O especialista destaca que o problema não é a tecnologia nem as redes, mas o modo como as pessoas se relacionam com elas.

“O digital é importante, claro, mas virou um palco sem propósito para muita gente. Entreter é legítimo e necessário, o problema é quando a busca por audiência se sobrepõe ao que se comunica. Influenciar de verdade é outra coisa: é gerar reflexão, mudar comportamento, oferecer algo que tenha valor. E isso exige preparo, coerência e propósito”.

Nem o medo, nem o palco: o caminho do meio

Entre o pânico da obsolescência e a ilusão do sucesso rápido, o especialista defende um caminho do meio: a reconstrução da base.

“A resposta não é temer a IA nem idolatrar a vitrine digital. É aprender com a tecnologia, usar o que ela tem de melhor e investir no que só o humano pode oferecer, capacidade de análise, comunicação com profundidade e repertório para resolver desafios. O mercado quer quem entrega, com consistência, proatividade e humildade para aprender o que for preciso”.

Aos que paralisam diante da IA, ele aconselha a usar a tecnologia como extensão da própria inteligência, não como ameaça. E aos que sonham com a fama digital, ele orienta a ter sempre algo verdadeiro a dizer, e capacidade de dizer isso bem.

“No fim das contas, a IA é só ferramenta, e o palco é só vitrine. O que constrói ou derruba uma carreira permanece inalterado: a combinação de quem você é, o que você entrega e o quanto está disposto a aprender”, conclui.

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