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Humanos + máquinas: o futuro do trabalho depende da cultura das empresas

Foto: divulgação.
Foto: divulgação.

Por Giovanna Gregori Pinto, executiva de RH e fundadora da People Leap.

Nós últimos anos, a inteligência artificial deixou de ser apenas um apoio e se consolidou como uma ferramenta estratégica, e a grande pergunta já não é mais se as empresas devem adotar a tecnologia, mas como elas farão isso.

A resposta para esse questionamento é simples: cultura organizacional. Ela é o reflexo do propósito e dos valores definidos pela empresa, que orientam comportamentos, decisões e práticas no dia a dia.

É a cultura que molda o ambiente de trabalho, influencia a forma como as pessoas interagem e garante que o uso da tecnologia esteja alinhado à identidade e aos objetivos da organização.

É fato que as empresas que investem em uma cultura organizacional voltada para a inovação ganham vantagem competitiva e, como já sabemos, a IA tem gerado uma grande transformação no mercado de trabalho, influenciando a dinâmica das empresas, a natureza das funções e as habilidades exigidas dos profissionais.

O estudo “The Promise and Challenge of the Age of Artificial Intelligence”, produzido pela McKinsey Global Institute, mostra que a IA impacta no crescimento de diferentes setores da economia, na otimização de processos, aumento de produtividade e diminuição de tarefas repetitivas.

Além disso, a pesquisa estima que a tecnologia gerará US$ 13 trilhões para a economia mundial até o ano de 2030.

Os benefícios trazidos pela IA nas empresas vão desde a automação de tarefas administrativas até a tomada de decisões com base em análises preditivas. Entretanto, isso também exige uma requalificação de mão de obra e uma nova abordagem para a gestão de talentos, à medida que as funções tradicionais evoluem ou desaparecem.

Segundo uma pesquisa realizada pela Organização Internacional do Trabalho, apenas 2% a 5% dos empregos correm o risco de ser substituídos pela IA.

Por exemplo, funções repetitivas e transacionais, suporte de primeira linha, processos administrativos, áreas criativas e geração de relatórios provavelmente serão automatizadas primeiro. Os trabalhos que permanecerão essencialmente humanos envolvem criatividade estratégica, julgamento ético, negociação, liderança e empatia.

Mas mesmo nelas surgem novas exigências: saber interpretar insights de IA, usar dados em tempo real para decidir e liderar times híbridos (humanos + agentes digitais).

Apesar disso, a pesquisa também revela que novos cargos tendem a ser criados e o ganho em produtividade nos empregos restantes é de 8% a 14%.

Segundo o relatório Future of Jobs 2023 do World Economic Forum, 74,9% das companhias pretendem implementar inteligência artificial até o ano de 2027.

Quando os colaboradores entendem como essas ferramentas são utilizadas, o receio de substituição tende a dar lugar ao aprendizado e à adaptação.

Nesse cenário, o papel da liderança é fundamental. Os líderes precisam comunicar com clareza, oferecer espaço para experimentação e fomentar uma cultura de aprendizado contínuo. A confiança e a segurança psicológica tornam-se ativos estratégicos para atravessar essa transição.

Ainda que poderosa, a inteligência artificial não substitui a criatividade, a empatia e o julgamento crítico, atributos exclusivamente humanos.

Como eu mencionei, o futuro do trabalho será híbrido, marcado pela colaboração entre pessoas e máquinas, e para que essa relação seja sustentável, a cultura organizacional deve reforçar o valor das soft skills, estimulando a adaptabilidade, a comunicação e a inteligência emocional.

Essas competências serão cada vez mais determinantes para que profissionais se destaquem em ambientes onde a tecnologia já é protagonista.

A IA é inevitável, mas o diferencial competitivo das empresas não estará na velocidade de adoção da tecnologia, e sim na forma como elas integram essa transformação ao cuidado com as pessoas. O desafio que se coloca aos líderes é claro: não basta implementar ferramentas sofisticadas.

É preciso preparar times, investir em desenvolvimento e cultivar uma cultura que enxergue a tecnologia como aliada, não como substituta. Afinal, são as pessoas, e não os algoritmos, que continuarão definindo o verdadeiro valor das organizações.

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