Por Ivson Coêlho, advogado especialista em direito tributário.
A inteligência artificial está mudando a forma como a Receita Federal enxerga as empresas. O cruzamento automatizado de dados, a análise preditiva e o monitoramento em tempo real transformaram o modo como o fisco atua.
Isso significa que o planejamento tributário tradicional, aquele baseado em revisões pontuais e respostas reativas, não é mais suficiente.
As empresas precisam acompanhar a velocidade, automatizar suas próprias rotinas e usar tecnologia tanto para cumprir regras como para prever riscos e oportunidades.
A relação entre tecnologia e tributação está mais estreita do que nunca. Hoje, um ajuste na política cambial, uma medida antidumping ou uma nova regulamentação sobre insumos pode alterar imediatamente o custo de operação de uma companhia.
Foi o que ocorreu recentemente com o poliol, base essencial para a indústria de colchões, cujo preço dobrou após a adoção de medidas antidumping.
Embora não seja um tributo em si, a variação impacta diretamente a carga tributária, já que o imposto incide sobre o preço final. É o tipo de situação que evidencia a urgência de uma visão estratégica e ágil sobre o ambiente fiscal.
Nesse novo contexto, o planejamento tributário deixa de ser uma barreira defensiva e passa a ser um instrumento de inteligência. Estruturas como holdings e offshores continuam relevantes, mas precisam ser revisadas com frequência e moldadas conforme as transformações do mercado internacional.
A volatilidade do dólar, a sofisticação das normas e o uso de inteligência artificial pelos governos exigem que empresas adotem modelos igualmente tecnológicos, capazes de responder a essas mudanças com precisão e velocidade.
O advogado tributarista, por sua vez, deixa de ser um intérprete de leis e se torna um estrategista. Sua função passa a envolver o domínio de dados, o entendimento de sistemas automatizados e a construção de soluções alinhadas ao core business de cada cliente.
O direito tributário caminha para um território onde o raciocínio jurídico precisa coexistir com a lógica algorítmica, e quem não entender essa simbiose corre o risco de ficar para trás.
Sem dúvida, o planejamento tributário do futuro será digital, preditivo e global. Ele não se limitará a reduzir impostos, mas a sustentar decisões inteligentes e proteger operações complexas em um cenário de fronteiras cada vez mais fluidas.
A inteligência artificial não substitui o raciocínio jurídico, mas redefine seu alcance. Planejar, agora, é pensar com a mesma rapidez que o fisco e com mais estratégia do que os algoritmos.