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Para criar um mercado, é preciso educá-lo antes

Foto: divulgação.
Foto: divulgação.

Gosto de estudar a trajetória de grandes inovadores e uma coisa que sempre noto é o quanto uma coisa que une essas pessoas é a vontade de construir novas lógicas para o mercado. As inovações incrementais são importantes, é claro, mas o que de fato entra para a história são aquelas mudanças estruturais, que requerem uma dose de esforço ainda maior. Construir um novo mercado é  lidar com resistência, com desconhecimento, com a solidão de estar algumas páginas à frente de um livro que ainda nem foi aberto pelos outros.

O mais desafiador é que, frente a este desafio, não basta oferecer um produto ou serviço novo. Muitas vezes ideias geniais se perdem porque não foram apresentadas da forma correta. Ao estruturar novos mercados, é preciso formar o público para que ele entenda o valor do que está sendo proposto. E esse processo — longo, complexo, muitas vezes invisível — é o que separa ideias geniais daquelas que se transformam em negócios duradouros e sustentáveis.

Criadores de mercado devem ir além das vendas

Quem se propõe a criar um mercado precisa parar de pensar como quem está apenas vendendo. É necessário assumir um papel educativo, quase institucional. Porque o desconhecimento não é um obstáculo pontual — é uma barreira estrutural que precisa ser enfrentada com informação, repertório e paciência.

Lido com isso em minha rotina. No mercado de investimentos, o desafio é ainda maior. Para alguém confiar seu dinheiro a uma empresa, é preciso entender bem o que faz dela uma instituição confiável. Em modalidades novas de investimento, como as que são decorrentes das possibilidades de democratização criadas pelas novas tecnologias, o desafio mais do que comercial é pedagógico.

Falta base, referência e linguagem acessível para explicar ao público, sem jargões e segredos, como o mercado funciona, quais são os riscos e as oportunidades, e por que ele pode ser, sim, uma alternativa sólida para o investidor e para o país.

É aí que entra o principal desafio do inovador: mais do que uma proposta comercial irresistível ou um produto redondo, o que faz conquistar espaço no mercado é a capacidade de explicar sua visão para as outras pessoas, fazendo com que mais gente confie no potencial daquela ideia.

Informação não é só ferramenta comercial — é motor de impacto

Muita gente olha para o ato de compartilhar conhecimento como uma estratégia de marketing. Não discordo que isso gere negócios. Mas a motivação precisa ir além disso.

Quando você ensina, você constrói um ecossistema. Você forma profissionais. Abre portas. Conecta pontas. E, principalmente, tira o setor da dependência de poucos atores que detêm toda a informação. Isso muda o jogo. Não só para quem está empreendendo, mas para todo o mercado.

A sustentabilidade de um setor depende diretamente do quanto seus participantes compreendem o que estão fazendo e por que estão fazendo.

Educar o mercado não é uma escolha para quem quer gerar impacto. É uma premissa. Porque a ignorância, no sentido mais literal da palavra, leva à má alocação de recursos, à tomada de decisões erradas, ao reforço de estigmas e ao colapso de iniciativas que tinham tudo para dar certo.

Se o público não entende o que está consumindo, ele não sustenta. Se o profissional não entende o que está vendendo, ele não fideliza. E se os investidores não têm clareza sobre os fundamentos, eles não ficam.

O caminho é construir um legado de transformação

Ao longo dos últimos anos, venho entendendo que nossa missão, como empresa e como liderança, não é apenas fechar bons negócios. É abrir caminhos. E isso exige uma mudança de mentalidade: deixar de pensar apenas em escala e começar a pensar em profundidade.

Afinal, negócios pontuais podem dar retorno. Mas só um mercado forte, informado e bem estruturado é capaz de sustentar um ciclo de impacto real, duradouro e coletivo.

E essa construção não se faz sozinha. Ela exige que quem está à frente baixe a guarda, traduza o complexo e compartilhe aquilo que sabe. Não para parecer sábio, mas para que mais gente possa fazer parte.

Criar um mercado não é sprint. É maratona. E nessa jornada, o maior ativo não é o que você sabe e sim o quanto disso você deixa disponível para os outros.

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Vice-presidente do conselho deliberativo da Droom Investimentos.

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