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Requalificar-se é o novo código da liberdade na era da IA

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Por Éric Machado, CEO da Revna Tecnologia.

A Inteligência Artificial deixou de ser uma promessa e se tornou uma presença inevitável no cotidiano das empresas. No entanto, o debate mais urgente não é sobre o impacto da tecnologia nos empregos, mas sobre a forma como reagimos a essa transformação. De um lado, há quem tema a substituição; de outro, quem enxerga uma oportunidade inédita de expansão das competências humanas. Não estamos vivendo o fim das profissões, e sim o renascimento da inteligência humana, agora ampliada por máquinas.

O Future of Jobs Report 2023, do Fórum Econômico Mundial, estima que 40% das habilidades atuais deixarão de ser relevantes até 2027. Isso significa que quase metade do que aprendemos até hoje precisará ser reaprendido em menos de cinco anos. A pesquisa Microsoft & LinkedIn Work Trend Index 2024 reforça essa urgência: 82% dos líderes acreditam que seus funcionários precisarão desenvolver novas habilidades relacionadas à IA nos próximos dois anos, mas apenas 39% das empresas têm planos estruturados de requalificação. O descompasso é evidente, e quem não se move para aprender, corre o risco de ficar obsoleto.

Mais do que dominar ferramentas, o futuro exige o desenvolvimento das chamadas “competências integradas”: a capacidade de unir o raciocínio técnico com atributos essencialmente humanos, como empatia, criatividade e pensamento crítico. Segundo o Fórum Econômico Mundial, as três habilidades mais críticas até 2027 serão o pensamento analítico, o aprendizado contínuo e a resiliência. Em outras palavras, o que vale agora é a plasticidade cognitiva, a disposição de aprender, desaprender e reaprender. Essa é a nova moeda de valor no mercado global.

Há, porém, uma resistência silenciosa que ameaça esse movimento. Muitos profissionais ainda enxergam a IA como uma ameaça e não como uma parceira. Essa visão é reforçada por lideranças que delegam a transformação à tecnologia, sem preparar as pessoas para acompanhá-la. A McKinsey Global Survey 2024 mostra que 64% das empresas já utilizam ou testam soluções de IA generativa, mas menos da metade investe na capacitação de suas equipes. Isso revela um equívoco conceitual: a inovação não depende apenas de algoritmos, mas de mentes preparadas para interpretá-los e aplicá-los com propósito.

No Brasil, o desafio é ainda mais estrutural. A Brasscom calcula que o país precisará de cerca de 797 mil novos profissionais de tecnologia até 2025, mas forma menos da metade desse total a cada ano. O déficit de talentos não será resolvido apenas com contratações, e sim com requalificação massiva. Empresas que criarem ecossistemas de aprendizado contínuo, em vez de terceirizarem o conhecimento, sairão na frente. Segundo a Deloitte Human Capital Trends 2024, 92% dos executivos consideram a cultura de aprendizado essencial para o sucesso organizacional, mas apenas 40% dizem tê-la, de fato, implementado.

Requalificar-se, portanto, é um ato de liberdade. É a escolha consciente de continuar relevante num mundo em mutação acelerada. A IA está redefinindo o valor do trabalho, automatizando o que é previsível e valorizando o que é singularmente humano. O futuro não pertencerá aos mais tecnológicos, mas aos mais adaptáveis, aqueles que compreendem que aprender é o novo trabalhar. Num cenário onde as máquinas calculam, mas não sonham, o conhecimento será o último território da liberdade.

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