Vivemos numa era em que a nossa atenção se tornou o ativo mais valioso da economia global. É isso mesmo: não são os dados, os produtos ou a tecnologia. É o seu olhar. O seu tempo. A sua permanência numa tela.
A chamada economia da atenção é o sistema que governa boa parte do que você consome e nem percebe, muitas vezes perdendo a noção do tempo. Quer ver? Qual foi a ultima vez que você pegou o seu celular para fazer alguma coisa que você …. não fez?
A lógica é simples: quanto mais tempo você passa em um app, jogo, rede social ou site, mais dinheiro aquela empresa ganha. Mas para isso, ela precisa de algo seu: foco. Ou melhor, a falta dele.
Por isso, os aplicativos são desenhados para prender você. Tudo é pensado para te manter rolando, clicando, reagindo, retornando. A interface, as notificações, os sons, os vídeos infinitos, os gatilhos de escassez, o “você também pode gostar”. Nenhum desses elementos é aleatório. Todos têm uma função: disputar segundos da sua atenção com outras dezenas de estímulos.
É como estar numa feira barulhenta onde todos gritam seu nome. Só que essa feira está no seu bolso. E a cada vez que você olha para ela, alguém está faturando.
(Foto da feira)
Como diz o ditado, agora mais atual do que nunca: “se você não está pagando pelo produto, você é o produto.” Andrew Lewis
E é exatamente isso que acontece. Ao usar gratuitamente redes sociais, plataformas de vídeo ou jogos, você está, na verdade, oferecendo sua atenção em troca. E ela será vendida. Seja em forma de publicidade, coleta de dados, análise comportamental ou engenharia de engajamento. Seu tempo se converte em lucro — para os outros.
Sequestraram a nossa atenção — e com ela, a nossa prioridade.
A consequência mais grave dessa lógica é que estamos perdendo o controle sobre como usamos o nosso tempo. E quando perdemos o controle do tempo, perdemos o controle da vida.
Deveríamos organizar nossos dias com base em três tipos de atividade:
- Importante (70%): aquilo que constrói, cura, aproxima, melhora — como saúde, relações, aprendizado, presença, autocuidado.
- Urgente (20%): aquilo que exige ação imediata, mas que, se bem planejado, poderia ser evitado.
- Circunstancial (10%): aquilo que surge como distração, ocupação aleatória ou passatempo improdutivo.
Esse conceito pode sim ser aprofundado com a leitura do livro: A Tríade do Tempo de Christian Barbosa
Mas o que a hiperconectividade está fazendo conosco?
Estamos dedicando quase metade do nosso tempo ou mais ao circunstancial. É como se vivêssemos o dia inteiro reagindo: a notificações, a demandas digitais, a estímulos aleatórios que não têm nenhum valor real. O problema é que, ao gastar tanta energia com o que não importa, o que é importante fica sempre para depois. E quando olhamos para o relógio, tudo parece urgente. Já respondeu aquele “Oi! Tudo bem?” com um sincero: “Meio corrido!”
É por isso que tanta gente hoje sente que vive “correndo atrás do tempo” sem sair do lugar. Estamos esgotados, mas improdutivos. Cheios de compromissos, mas vazios de propósito. Nunca tivemos tantas ferramentas de gestão, e nunca estivemos tão perdidos e principalmente desorganizados.
A má administração do tempo se tornou uma epidemia silenciosa — e profundamente corrosiva.
Ela adoece por dentro e por fora. A mente se agita com a sensação constante de que algo está pendente. O corpo não relaxa porque o cérebro permanece em alerta, alimentado por notificações, demandas e comparações. E, no plano emocional, nos vemos num piloto automático existencial — cumprindo tarefas, sim, mas desconectados do que realmente faz sentido. Como se estivéssemos assistindo à nossa própria vida, e não vivendo-a de fato.
Mas há uma boa notícia: o tempo pode ser reconquistado. Só que, para isso, precisamos enxergar o que está por trás dessa distração permanente. Não estamos falando de “falta de foco” ou “procrastinação”. Estamos lidando com um sistema intencionalmente projetado para capturar sua atenção — e monetizá-la. Um modelo de negócios que prospera à custa da sua presença.
E o mais irônico? O principal sequestrador do nosso tempo de qualidade está sempre ao nosso alcance, no bolso, na mão, na mesa de cabeceira. O celular, que poderia ser uma ferramenta, virou um capturador de consciência, reorganizando nosso tempo em torno de urgências que não são nossas.
A atenção é a moeda. E o tempo, o bem mais precioso.
Nesta coluna, vamos falar muito sobre isso. Como identificar os sequestradores de atenção. Como resistir aos gatilhos digitais. Como reorganizar a rotina em torno do que realmente importa. Como usar a tecnologia sem ser usado por ela.
Hoje mais do que nunca seu tempo é o dinheiro de alguém. Nossos pais estavam quase certos ….