Por Paulo Magnus, CEO da MV.
Entrar no mercado dos Estados Unidos sempre foi, para qualquer empresa, um desafio de escala global. Quando consideramos o cenário atual e negociamos tecnologias para a saúde, a complexidade aumenta ainda mais.
Não se trata apenas de superar barreiras regulatórias ou competir com gigantes estabelecidos, mas de apresentar vantagens competitivas muito relevantes.
Levar soluções digitais de alta complexidade, e não apenas commodities, implica em posicionamento político, econômico e diplomático.
O Brasil, historicamente, não é visto como exportador de tecnologia de ponta em saúde. A presença internacional do país esteve por muito tempo limitada a insumos, serviços de menor valor agregado ou produtos farmacêuticos básicos.
Romper essa barreira significa inaugurar uma nova narrativa: a de que temos condições de entregar inteligência e inovação clínica em pé de igualdade com players globais.
A MV pode parecer estar na contramão ao iniciar sua operação na Flórida, em parceria com o grupo Medstation, mas inaugura um ciclo que conecta dois ecossistemas de saúde capazes de aprender muito um com o outro.
Ao mesmo tempo em que absorvemos práticas de um mercado maduro, levamos nossa visão de cuidado integrado, com soluções que unem jornada digital, telemedicina e inteligência artificial.
Apesar da expertise conquistada nessas duas décadas de atuação internacional, a entrada nos Estados Unidos impõe desafios significativos. As barreiras regulatórias, a necessidade de homologação de padrões técnicos e a adaptação cultural exige tempo, investimento e flexibilidade.
É por isso que, desde 2022, demos um passo decisivo ao agnosticar nosso Prontuário Eletrônico do Paciente, que foi desconectado da plataforma MV para ser integrado a qualquer ERP do mercado. Esse movimento seguiu o mesmo modelo adotado pelas grandes empresas americanas de Electronic Medical Record (EMR).
Essa mudança, adaptação e dedicação faz todo sentido porque é justamente nesse percurso que se mede o grau de maturidade de uma empresa e de um país, por meio da capacidade de competir globalmente sem perder a identidade.
É preciso inovar, entregar valor real e mostrar que a experiência adquirida em outros países pode contribuir para a transformação de um setor que movimenta cifras colossais, um atrativo inegável do mercado norte-americano.
Por lá, estima-se que alguns serviços de saúde sejam remunerados em valores até 50 vezes superiores aos praticados no Brasil.
Essa diferença se deve não apenas ao poder econômico dos EUA, mas também ao modelo de saúde desunificado, oneroso e em constante busca por eficiência.
É nesse ponto que a tecnologia assume papel estratégico, ao reduzir desperdícios, melhorar a jornada do paciente e apoiar profissionais em decisões clínicas críticas.
Se esse setor nos EUA é disputado por empresas tradicionais e por uma legião de startups que diariamente buscam conquistar espaço, nós entendemos que a concorrência torna a experiência mais relevante.
Para uma companhia latino-americana, ocupar esse território significa validar sua capacidade de competir em igualdade de condições com marcas globais.
Significa também abrir portas para que outras empresas brasileiras enxerguem que é possível transformar inovação local em referência internacional.
Investimentos da ordem de US$ 10 milhões já foram direcionados a essa iniciativa, e novas frentes se abrem com a integração da MV à inteligência artificial da Sofya, startup brasileira que hoje figura entre as mais promissoras no cenário internacional de IA para a saúde.
Essa associação fortalece ainda mais a visão de futuro: a construção de uma superinteligência clínica capaz de apoiar diagnósticos, otimizar fluxos e ampliar a precisão da medicina.
Isso porque internacionalizar também é aprender. É entender como as instituições de saúde norte-americanas se organizam em torno de dados, processos e resultados, e como essas práticas podem inspirar melhorias no próprio sistema brasileiro.
A troca é mútua: enquanto absorvemos padrões internacionais de certificação, compliance e escalabilidade, levamos nossa experiência em gestão hospitalar de alta complexidade e em sistemas públicos com milhões de atendimentos simultâneos.
Ocupar espaço nessa conversa é uma forma de assegurar que o Brasil não seja apenas consumidor de tecnologia, mas também protagonista na definição dos rumos da inovação em saúde e no cuidado de qualidade para o paciente.