Por Ewerton Camarano, CEO da Uliving.
A hotelaria sempre foi referência em experiência. Do atendimento personalizado ao cuidado com cada detalhe, os hotéis criaram um modelo de relacionamento baseado em conforto, serviço e encantamento.
Agora, esse mesmo olhar começa a transformar o mercado imobiliário, que passa a entender que o verdadeiro diferencial competitivo está na forma como o morador vive, e não apenas no espaço onde habita.
Nos últimos anos, o setor vem incorporando elementos típicos da hospitalidade, aproximando-se de um novo modelo de moradia com serviços inspirados na lógica hoteleira.
É o caso dos colivings e residenciais com estrutura “plug & play”, que oferecem ambientes totalmente mobiliados, gestão de manutenção, limpeza, internet, eventos e áreas comuns que estimulam a convivência, produtividade e lazer.
Nesse formato, o morador não precisa lidar com burocracia ou múltiplos fornecedores, ele apenas chega e vive a experiência, como um hóspede de longo prazo.
Um mercado em expansão global
Segundo a Grand View Research, o mercado global de coliving foi avaliado em US$ 7,82 bilhões em 2024 e deve atingir US$ 16,05 bilhões até 2030, crescendo a uma taxa anual de 13,5%.
O estudo destaca que o avanço se concentra principalmente em grandes centros urbanos, onde o custo de vida é mais alto e a mobilidade se tornou prioridade.
Por isso, o modelo que combina moradia e serviço surge como alternativa viável e desejada, especialmente entre as gerações mais jovens, que buscam flexibilidade e conveniência acima de tudo.
Essa tendência se conecta diretamente ao movimento global conhecido como hybrid hospitality, em que o conceito tradicional de hotel se mistura a espaços de coworking, residências e estadias prolongadas.
A ideia é atender perfis que não querem simplesmente “ficar”, mas “viver com serviço”. É o mesmo raciocínio que guia os colivings contemporâneos, empreendimentos que buscam proporcionar uma rotina prática, conectada e, sobretudo, humana.
O que o setor imobiliário aprende com a hotelaria
A hotelaria tem décadas de expertise em compreender o comportamento do hóspede e antecipar suas necessidades. Esse know-how de escuta ativa, personalização e entrega de valor está sendo transposto para o universo residencial.
No mercado imobiliário, essa transição se traduz na criação de moradias com serviços integrados, ambientes planejados e atendimento centrado nas pessoas.
Assim como um hotel oferece suporte e praticidade no dia a dia, os novos modelos de moradia urbana entendem que a experiência não se encerra na entrega das chaves, na verdade, ela começa ali.
Um dos principais aprendizados da hotelaria é que o encantamento está nos detalhes invisíveis: na eficiência do serviço, na agilidade das respostas e na sensação de cuidado.
O morador, assim como o hóspede, busca conforto, autonomia e fluidez. Essa mentalidade tem transformado o papel das administradoras e incorporadoras, que agora atuam não apenas como gestoras de imóveis, mas como facilitadoras de rotina e bem-estar.
No Brasil, essa tendência se manifesta em moradias urbanas voltadas a públicos jovens e conectados, que valorizam a comodidade e o senso de comunidade.
São empreendimentos que unem o conforto de casa com a praticidade de serviços compartilhados, como lavanderia, áreas comuns, manutenção, internet e eventos integradores, em uma proposta moderna, acessível e alinhada ao estilo de vida das novas gerações.
Essas soluções traduzem o desejo crescente por moradias funcionais e flexíveis, que priorizam tempo e experiência, e não apenas espaço físico. Um equilíbrio que simboliza a maturidade de um mercado que aprendeu com a hotelaria a colocar o morador no centro da jornada.
Desafios e oportunidades
A “hotelização” da moradia estudantil não está ligada ao luxo necessariamente, mas à ampliação da visão sobre o morar, que passa de um bem material a um serviço integrado, baseado em bem-estar, acolhimento, entretenimento e praticidade.
O grande desafio desse modelo é transformar o cotidiano em uma experiência mais fluida, sem perder o equilíbrio entre custo e conveniência.
Manter uma operação eficiente, com uma equipe afinada, com serviços que realmente simplifiquem a vida do morador, como manutenção ágil, limpeza, segurança, suporte digital, atendimento muito próximo e entrega consistente dos serviços, é o que define o sucesso desse formato.
Nos grandes centros urbanos, onde o tempo é um recurso escasso e a rotina universitária é intensa, a moradia com serviços inspirados na hotelaria surge como uma resposta natural às novas demandas.
O objetivo é garantir conforto e autonomia, sem burocracia e sem altos custos. Assim, o conceito de “viver com serviço” se consolida como um modelo sustentável e inclusivo, capaz de unir hospitalidade, tecnologia e propósito, e de atender de forma inteligente uma geração que valoriza tempo, bem-estar e liberdade de escolha.
A hotelaria, portanto, não é apenas inspiração estética para o mercado imobiliário: é um modelo operacional de sucesso, em que os protagonistas são as pessoas e o bem imóvel é coadjuvante.
As empresas que compreenderem essa lógica estarão mais preparadas para atender o morador contemporâneo, que valoriza tempo, conforto e conexão.
No fim das contas, a casa ideal deixou de ser apenas o lugar onde se mora, ela passou a ser o lugar onde se vive bem.