Por Marcelo Martins, COO da Estratz.
Nos últimos anos, muito se discutiu sobre ESG (Environmental, Social and Governance -em português: Ambiental, Social e Governança) como uma agenda estratégica essencial para empresas que desejam longevidade e relevância. Porém, apesar de sua importância, ainda existe um grande abismo entre discurso e prática. A maioria das organizações trata ESG como uma diretriz institucional, quando, na verdade, seu impacto real só acontece quando se torna parte integral da operação.
Porém, ainda persiste a ideia de que sustentabilidade implica custos adicionais ou redução de eficiência. No entanto, a prática revela justamente o contrário. Uma operação eficiente é naturalmente sustentável, porque elimina desperdícios, reduz retrabalho, otimiza recursos e torna processos mais inteligentes.
Como COO, aprendi que o verdadeiro desafio não é definir compromissos sustentáveis, mas torná-los executáveis, mensuráveis e replicáveis. ESG precisa estar dentro da estrutura do negócio, refletido em processos, fluxos, responsabilidades, métricas e cultura. Não basta anunciar intenções, é preciso que a operação suporte essas intenções. Encontrar o equilíbrio é responsabilidade de quem vive a operação no detalhe. Toda decisão operacional deve gerar retorno financeiro e ambiental, garantindo que o crescimento de hoje não comprometa a capacidade de evoluir amanhã.
Além disso, é fundamental evitar o greenwashing de processos: ações superficiais não substituem eficiência estrutural. Não adianta compensar carbono se a operação desperdiça energia, não adianta promover iniciativas sociais se os fluxos internos continuam ineficientes.
Os principais entraves da agenda ESG
O primeiro obstáculo está no desalinhamento entre narrativa e execução. ESG não pode ser apenas marketing institucional. Se a estratégia não se traduz em rotinas e metas, não há avanço consistente.
Outro ponto crítico é o custo de transição: adaptar processos, treinar pessoas e construir métricas confiáveis exige investimento. Além disso, ainda faltam padrões claros de mensuração, o que gera dificuldade de comparar resultados entre empresas e setores.
Por fim, existe um desafio cultural: sustentabilidade depende de repetição, disciplina e coerência. É um compromisso diário, não um projeto pontual.
Tecnologia como catalisadora da transformação sustentável
Nenhuma estratégia ESG se consolida sem tecnologia. Três frentes são particularmente decisivas:
- Automação (RPA, IA, APIs): Elimina tarefas redundantes, reduz erros humanos e melhora a previsibilidade dos processos;
- Analytics e Business Intelligence: Tornam possível medir indicadores ESG em tempo real, correlacionando eficiência operacional com impacto ambiental e social;
- Cloud e ferramentas colaborativas: Reduzem dependência de papel, servidores físicos e deslocamentos, além de viabilizar modelos de trabalho distribuídos com menor pegada de carbono.
Entretanto, tecnologia isolada não garante sustentabilidade. O ganho real surge quando os sistemas conversam, quando dados fluem sem atrito e quando a operação passa a ser analisada de forma integrada. É isso que evita duplicidades, ruídos e desperdício de esforço humano.
O que esperar no futuro
Acredito que o futuro das operações sustentáveis será marcado por sistemas inteligentes, capazes de identificar desperdícios de energia, gargalos logísticos e ineficiências de forma automática. A combinação entre IA operacional (AI Ops) e ESG Analytics trará um nível inédito de transparência e rastreabilidade.
Operações verdadeiramente sustentáveis serão aquelas desenhadas para não gerar impactos negativos desde a origem, e não apenas para compensá-los. ESG deixará de ser um diferencial competitivo para se tornar requisito básico, tão essencial quanto compliance.