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O condomínio como espelho da economia

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Foto: Freepik.
Foto: Freepik.

A inadimplência da taxa condominial no Brasil, considerando atrasos superiores a 30 dias, subiu para 11,95% no primeiro semestre de 2025. O dado, apurado pela uCondo entre os mais de 6,5 mil condomínios observados no país, representa o maior patamar desde 2022 e um salto relevante ante os 9,99% do mesmo período de 2024. Esse é um indicador claro de que as pressões macroeconômicas, como a alta dos juros, está afetando o orçamento doméstico dos brasileiros. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) optou por manter a taxa básica de juros em 15%, o maior nível em quase 20 anos.

O que esse salto da inadimplência tristemente revela é que quando as pessoas param de pagar a taxa condominial, é porque provavelmente já deixaram de arcar com outras contas “menos urgentes”, por exemplo, a fatura do cartão de crédito. Quando a dívida chega no nível habitacional, significa que a situação é séria e serve como alerta para o síndico. A realidade do Brasil é que hoje temos 78,02 milhões de pessoas com o nome negativado, o que representa 48,31% da população adulta, de acordo com o Mapa da Inadimplência da Serasa, divulgado em agosto. O mapa também mostra que a maioria dos inadimplentes está nas faixas etárias de 30 a 40 anos (32,3%) e 40 a 50 anos (26,2%), ou seja, a maior parte da força de trabalho do país. 

Entre as regiões, o Norte alcançou 18,44% de inadimplência, o maior índice nacional, seguido pelo Nordeste (13,52%) e pelo Sudeste (11,78%). O Sul (9,45%) e o Centro-Oeste (10,21%) apresentam desempenhos relativamente melhores, mas os números não permitem conforto. A inadimplência foi acompanhada do aumento do valor médio nacional da taxa condominial, que passou de R$ 501 no 2º semestre de 2024 para R$ 516 no 1º semestre de 2025. A taxa média das regiões ficou em R$ 516,84 no Sudeste, R$ 537,32 no Sul, R$ 522,30 no Nordeste, R$ 514,51 no Centro-Oeste e R$ 429,21 no Norte.

Nem tudo pode ser atribuído exclusivamente à economia. Há falhas de gestão que contribuem para a escalada da inadimplência em diversos condomínios. Comunicação desalinhada, falta de transparência na prestação de contas, cobranças mal realizadas, assembleias condominiais vazias e outras questões que minam o controle do síndico e a confiança dos moradores. Dessa forma, todos os problemas do condomínio são resolvidos em momentos de urgência, sem previsão orçamentária e com prejuízo para todos os condôminos.

Para que isso não aconteça, servem práticas que tornem a vida condominial mais previsível. Algumas ações que podem ser implementadas de imediato são: comunicação frequente e clara sobre prazos, multas e juros; cobrança em conformidade com a convenção do condomínio e a legislação (evitar avisos um dia antes do vencimento, que aumentam as chances de erro); estabelecimento de procedimentos para notificações e negociação de dívidas antes de acionar a Justiça; estímulo à participação dos moradores em assembleias e decisões orçamentárias; revisão e otimização de contratos e consumo (como água e energia) para reduzir despesas comuns; incentivo ao adiantamento de pagamentos, com descontos, quando financeiramente viável; e políticas que preservem quem paga em dia.

A alta da inadimplência condominial é, portanto, um termômetro do comprometimento financeiro das famílias brasileiras, mas também uma convocação para que síndicos, administradoras e moradores atuem com mais planejamento e diálogo.

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Sócio-cofundador da uCondo, empreendedor, investidor, mentor e autor do bestseller “Eu Empreendedor”

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