Por Nicolás Ávila, CEO do Media, Entertainment, Sports and Hospitality AI Studio da Globant.
Sem dúvida, Interlagos é uma usina de emoções para os brasileiros. Foi lá que, em 24 de março de 1991, Ayrton Senna escreveu a história mais memorável do circuito, e uma das mais marcantes da Fórmula 1. Com sua McLaren-Honda, venceu o Grande Prêmio, mas, acima de tudo, cumpriu a missão de vencer em casa.
Como em toda a trajetória de “Beco”, tudo que ocorreu na pista naquele dia parecia roteiro de um filme: na parte final da corrida, perdeu a quarta marcha, depois a terceira e, finalmente, ficou apenas com a sexta. A chuva e o cansaço físico foram ingredientes extras, mas Senna cruzou a linha de chegada em primeiro.
A imagem dele, sem forças sequer para levantar o troféu, é um ícone que perdura, uma vitória da vontade sobre os limites humanos.
Dezessete anos depois, em 2008, por outro lado, Felipe Massa (Ferrari) venceu a corrida, mas perdeu o campeonato porque, a 38 segundos do final, Lewis Hamilton conquistou o quinto lugar.
Curiosamente, Massa foi o último brasileiro a correr no Grande Prêmio do Brasil, até a breve participação de Gabriel Bortoleto, em 2025. Mas, depois de quase 10 anos, há outro aspecto relevante nesse contexto, que é o do impacto da tecnologia nas provas.
Hoje, cada decisão estratégica da Fórmula 1 se apoia em inteligência artificial, dados em tempo real, gêmeos digitais e análise preditiva, ferramentas que transformam a maneira como as equipes concebem uma corrida e impactam diretamente o lar paulista dos melhores pilotos do país.
Enquanto, na época de Senna, o recorde de parada nos boxes podia ultrapassar 11 segundos, a média atual é de 2,4 segundos, graças à automação e ao processamento instantâneo de terabytes de dados.
A Fórmula 1 evoluiu significativamente nas últimas décadas, passando de uma base sólida em talento nato e decisões ousadas para um sistema fundamentado em análises altamente técnicas e dados em tempo real que otimizam cada aspecto do carro e do ambiente, extraindo o máximo desempenho e dando a cada piloto a oportunidade de demonstrar seu talento.
Esses pilotos altamente analíticos e habilidosos agora precisam das melhores ferramentas para lutar pela glória, e nosso Sistema de Distribuição de Conteúdo para Equipes (TCDS) atende a essa necessidade: ele permite o processamento instantâneo de informações críticas, integrando vídeo, sensores, dados de telemetria e câmeras para que as equipes possam tomar decisões em tempo real.
Não se trata mais apenas de talento, resistência ou instinto: o desempenho é otimizado por meio de simulações, gêmeos digitais e algoritmos que preveem o desgaste dos pneus, o consumo de combustível e até mesmo os movimentos dos rivais.
Imagine por um momento: quanto mais Ayrton Senna poderia ter extraído de seu carro com essa tecnologia? Quão mais próximos os fãs estariam do Senna humano com a telemetria, o vídeo e o áudio que temos hoje?
Esses são todos cenários hipotéticos, mas a verdade é que poderíamos ter aproveitado muito mais suas façanhas. Essas ferramentas não apenas revolucionam as pistas; elas também transformam a maneira como os fãs vivenciam a Fórmula 1.
Experiências como visualizações interativas de estratégia permitem que espectadores do mundo todo compreendam e apreciem cada manobra, cada parada nos boxes e cada decisão.
O que antes parecia exclusivo de engenheiros e pilotos agora é compartilhado com milhões, expandindo a base de fãs e gerando novos recordes de audiência.
As narrativas voltadas ao grande público, como “Drive to Survive” e “Fórmula 1: O Filme”, são a face mais visível de uma estratégia que transformou o esporte em um espetáculo global, alcançando 826,5 milhões de seguidores entre 2023 e 2024, com um aumento de 90 milhões de fãs, segundo a Nielsen Sports.
O filme dirigido por Joseph Kosinski apresenta uma cena muito ilustrativa: Joshua Pierce (Damson Idris) entra na sede da equipe APXGP e exige que recriem o cenário exato que viveu meses antes no circuito de Monza.
Automaticamente, isso acontece: ele, sentado na base da equipe, conduz o carro no mesmo momento, enfrentando as mesmas dificuldades e tentando tomar decisões melhores para não repetir o erro.
Joshua Pierce não existe, tampouco a APXGP. A única coisa real nessa cena é o uso de gêmeos digitais para criar cenários nos quais os pilotos podem aprimorar suas técnicas.
No domingo, uma parte importante do mundo voltou seus olhos para São Paulo. Alí, o público viu o talento dos melhores pilotos perseguindo o exemplo da coragem de Ayrton Senna, mas também algo mais: a capacidade de interpretar dados em tempo real de toda uma equipe e a Inteligência Artificial como aliada do potencial humano para observar detalhes, alcançar velocidades mais altas e conquistar a vitória.
Por 71 voltas e quase duas horas de corrida, Interlagos foi uma janela para compreender a explosão da revolução tecnológica que atravessa o mundo. Para Senna, certamente, essa realidade pareceria uma cena de ficção científica.
Para que um piloto vença, o talento sem dúvida é fundamental, mas também há muita tecnologia que precisa funcionar corretamente para colocar esse piloto nessa posição.
A Fórmula 1 é um exemplo de como a tecnologia está levando os limites do desempenho ainda mais longe e ajudando os seres humanos a alcançar novos níveis em suas conquistas, ao mesmo tempo em que dá vida a histórias apaixonantes e imersivas.
A Fórmula 1 nunca foi tão técnica e, ainda assim, o público nunca esteve tão próximo da ação, e os avanços tecnológicos têm sido fundamentais em ambas as dimensões.